Agora que o filme angariou de forma justa os principais prêmios de Cinema existentes, procurarei tecer um breve comentário sobre ele. Acredi...
Agora que o filme angariou de forma justa os principais prêmios de Cinema existentes, procurarei tecer um breve comentário sobre ele. Acredito que pouco, ou nada acrescentarei, visto que o filme já foi dissecado e criticado por vários especialistas, em todos os países do mundo. Servirá então esse escrito como endosso a visão já formada a respeito da obra. Não serei um daqueles que se postará no front contrário, apenas para chamar a atenção e atrair a atenção sobre minha figura. Jamais fiz uso de tal expediente. O que escrevo (criticável logicamente) sempre retratará minha visão sobre o assunto ou obra. Jamais me servirei de instrumento de solidificação de uma opinião contrária a minha consciência, com o intuito de usufruir de algo vantajoso.
A começar pelo título da obra: Parasita. Não se trata aqui nem de uma criatura monstruosa, tampouco de um vírus mutante. Nem sei se poderia afirmar que o filme se refere a relação de dependência, de uma pobre família de Seul com uma família abastada. Pode ser que seu diretor se refira a um convidado surpresa de última hora, visto que o título está no singular.
A visão trazida pelo diretor, através de seu senso de humor muitas vezes mórbido, é sombria. De um país, ou precisamente de um mundo moderno inconciliável, cuja divisão geográfica pouco representa, diante do fosso social que se agiganta de uma maneira intransponível, como numa sociedade estamental, que acreditávamos estar enterrando. Tudo isso toma forma, na relação entre o subterrâneo e a superfície de uma ampla casa construída num belo bairro em Seul. A família Park, que fez fortuna no mundo tecnológico, e busca dessa forma espelhar em sua residência e cotidiano um modo de vida ocidental. Nota-se que a mãe, bem como o patriarca, ainda não sabe como lidar com essa nova condição. Eles são apenas repetidores de velhos conceitos anglo-saxões que repetem a exaustão. Já os intrusos desse paraíso, não são exatamente maus ou vilões. São unidos, existe o respeito familiar, e buscam em conjunto driblar as dificuldades. Habitam uma residência abaixo do nível da rua, sujeita ao retorno do esgoto e aos odores daqueles que urinam nas ruas. São aborígenes que se deixam atrair pelo relvado bem aparado, os largos cômodos, todo murado, que parece representar um paraíso, que jamais atingirão.
Quando o filho Kim é contratado pelos Park, ele trama um plano, para alavancar para dentro daquele espaço todos os seus familiares. Eles se postarão ali como serviçais úteis, cheio de referências, todas necessárias a suprir as necessidades dos Park. Para isso engenhosamente retiram de cena os antigos empregados. Os Park não percebem que se trata de indivíduos de um mesmo clã, apesar da advertência do filho (todos eles cheiram iguais – mesmo sabão em pó?).
A partir daqui nada mais se pode falar do filme, sem que se faça uso do spoiler. E o pior de uma crítica ou comentário é revelar a história, não deixando que ela surja como novidade durante a projeção. O filme se vale de inúmeras reviravoltas e o diretor habilmente se vale dos inúmeros gêneros. Bong Joon-ho é um diretor que legará a nós outras boas obras. E já fincou seu nome na história da sétima arte ao arrebatar o oscar principal com um filme não falado em língua inglesa. Um feito espetacular. E acrescente-se: MERECIDAMENTE!