“Após um acidente de ônibus em pleno coração do Brasil, Alex, sua irmã e uma amiga dela, além de vários outros estrangeiros aguardam a chegada de um ônibus substituto. Para minimizar o enfado do aguardo, eles seguem a dica de um transeunte que lhes informa da existência de um local onde podem beber e comer. Seguindo a indicação eles acabam em uma praia paradisíaca , onde encontram um outro casal de estrangeiros em um agradável quiosque. Lá eles se entregam ao prazeres de Baco e da dança. No dia seguinte o casal de estrangeiros some. Dão-se conta que também seus pertences. Ao buscarem ajuda, encontram alguém que os conduz para um centro de um furacão ...”
Antes de se comentar o filme levado às telas algumas considerações. Em primeiro lugar falemos um pouco de seu diretor. Ele trabalhou como ator em Christine – O carro assassino (Dennis Guilder), Nixon(Staffer 1) e Top Gun – Ases indomáveis(Cougar). Como diretor fez “A onda dos sonhos”, “Mergulho radical” e “Gostosa Loucura”. Note-se que dos filmes que dirigiu existe uma certa ligação com os cenários a beira mar.
Em segundo lugar o filme nasceu entre uma parceria de dois pequenos estúdios: o “2929” e o “Stone Village”. Serão socorridos depois com a ajuda financeira e de distribuição da “Fox Atomic”(uma filial da Twentieth Century Fox criada com o intuito de produzir filmes destinados aqueles que são amantes de sensações fortes, nem sempre rebuscadas).
O que assistiremos na tela, como já se pode prever, não primará por ser uma produção bem costurada. O filme sofreu certas dificuldades para ser concluído. O diretor e a sua equipe não tinham certeza que iriam concluir a obra iniciada.
Um dos primeiros personagens que nos é apresentado é o vilão. Sabemos que se trata de um louco. Contudo como em toda as últimas produções do gênero, o louco é nativo do lugar. É um ser que traz em seu bojo, no entanto, o discurso e a prática oriundo de outras plagas (assemelha-se a um cientista tardio de um campo de concentração alemão). Ele arranca os órgãos de suas vítimas para doá-los a um hospital popular do Rio de Janeiro. Ele se vinga dos estrangeiros que vem saquear o Brasil desde o seu descobrimento (ele cita mais precisamente o tráfico de crianças, de mulheres e de órgãos). O médico além de louco é sádico, já que tal pilhagem é realizada com o paciente despertado.
As suas vítimas são preconceituosas. O discurso dos que desfilam na tela é de que aqui é o lugar do pode tudo: “Não existe pecado no lado de baixo do Equador”. Os jovens turistas estão a procura de sexo, drogas e bebidas. Nenhum compromisso que não seja o do hedonismo os anima.
Apesar do tema indigesto o filme não soa arrastado. Isso se deve ao acerto da mistura entre atores estrangeiros e nativos (não que existam grandes performances) que cria a sensação de veracidade necessária. A vulnerabilidade desses turistas se acentua diante da incompreensão da língua, da grandiosidade da Natureza que parece tudo esconder em suas entranhas e uma doentia sensação de que os habitantes se sentem poderosos com a demonstração de fragilidade e da não adaptação dos turistas ao nosso meio. Tal ambientação, consciente ou não acaba por fazer com que o filme marche, sem se tornar cansativo, apesar do sentimento de “déjà vu” que impera em toda tomada.
A primeira parte serve para que o público alvo (os jovens) se identifique com a aventura e com o que desfila na terra (corpos jovens em minúsculos biquínis e, paisagens belíssimas) pronto para ser vivido e sentido. A partir de sua segunda metade o horror se instala. Aqui um dos erros maiores: o vilão é desnudado sem o requinte necessário, sem suspense e surpresas. Apesar disso ele ainda choca. Afinal, o discurso para os estrangeiros soa lógico demais: São eles que se beneficiam com o silêncio do tráfico humano para esses fins. Creio que o filme deve ter recebido criticas benfazejas na Europa devido ao tema que perturba e choca. Sobretudo por sabermos que tal existe e as autoridades fingem não ver.
Um filme como “Turistas” acabara marcando uma época não pelas qualidades, mas por abordar um tema indigesto, ainda que de uma maneira superficial. Deve ter funcionado melhor para o público americano e europeu, pois apesar do discurso político de seu vilão, o que faz com que de fato o filme seja agradável para eles é o fato deles serem as vítimas aqui, ao contrário da realidade. E também por difundir que o bom selvagem (na visão deles) pode ser um lobo disfarçado em cordeiro (Kiko) pronto para se aproveitar do turista incauto.
Em suma um filme cheio de furos, com interpretações sofríveis e que promete mais do que cumpre. Em mãos mais competentes poderia até ter ido mais longe. Mas devido ao tema que perturba e aos cenários magníficos deixa-se ver.