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Somos Tao Jovens (2013)

  (SOMOS) TÃO JOVENS, NÃO TÃO FÚTEIS Protestos Caboclos em Abortos Arcaicos Os dias  new wave brasuka que vestiam ombreiras, calç...

 
(SOMOS) TÃO JOVENS, NÃO TÃO FÚTEIS
Protestos Caboclos em Abortos Arcaicos

Os dias new wave brasuka que vestiam ombreiras, calça de brim e polainas em final de ditadura rumo às Diretas Já, deram lugar a geração W(i-Fi). As décadas de 80 e 90 nos deixaram, hoje os meios de se obter a informação são brutalmente velozes mas que legado restou-nos?
Estive num tempo em que a série Malhação era febre nacional, na trama, o ponto de encontro dos protagonistas chamava-se Guacamole. Vira ampulheta que tem novo nome, adivinha qual? Se respondeu Gigabyte! das duas uma, ou você é um velho oráculo ou é tão jovem quanto o google que digita. Desta forma, eis que chegamos a malfadada cultura de almanaque! Nos tempos em que a revista Bizz era fonte de cultura para alguns, pra outros, claramente algo mais superficial. Você talvez deva se perguntar, mas e o que isto tem haver com o filme? Resposta, TUDO. Prometendo recriar os dilemas e agruras juvenis de um dos maiores poetas da música brasileira, surge a ambiciosa premissa de Somos Tão Jovens.
Juntamente com a família Manfredini, somos transportados ao ano de 1973, quando decidem trocar o Rio de Janeiro pela cidade de Brasília. Logo no princípio, o enredo demora a engrenar, passando quase que invariavelmente ao redor de um único personagem, Renato. O texto é frágil, óbvio, e ainda que contando muito do que já era sabido, não há inteligência argumentativa nas decisões do roteiro. O que vi foi uma reconstituição truquera que sutilmente esconde-se entre o ácido e poético contido nas letras de Renato, que convenhamos, é uma tremenda covardia. É fato que surgirão aqueles que (como eu ‘robô’) foram ou serão tomados por algum tipo de emoção, entretanto, muito mais pela memória afetiva (e densidade influenciada no som dos acordes da Legião Urbana), do que por força do argumento textual de Marcos Bernstein, o roteirista.

É diante de uma contemporaneidade tamanha, que extrapolam-se riscos causando uma tremenda confusão: o da velocidade com a falta de conteúdo. O longa dança através de um ar novelescamente Record, tudo aos olhos do diretor Antônio Carlos da Fontoura. Este que já havia acertado no documentário musical Loki, Arnaldo Baptista, entretanto aqui esbarra bisonhamente por cima de um perigoso muro onde escolhe não dramatizar ou polemizar, não demostrando assim, nem uma coisa nem outra. Nem os maiores dos iconoclastas imaginariam que a força impressa pela “Geração Coca-Cola” de Renato conseguiria deter tanto poder. Ser Renato não é tarefa fácil, Thiago Mendonça (2 Filhos de Francisco, 2005) foi Renato encarnado, gostei dele admito. Laila Zaid (Aninha, melhor amiga), foi bem, sobrou alguma química entre eles, mas repare no amigo punk de Renato, do caricato ao lúdico, onde acharam esse cara? E quem em sã conciência acharia que esse menino de sotaque fabricado foi um dia um ‘gringo’ de verdade!?
IMPRESSÕES
Não somo feitos de lata nem de sangue de barata, mesmo assim é vergonhoso analisar como este diretor subestima seu público. Perceba que tudo é pra Renato e por Renato. Não se pode justificar um longa que necessita de um personagem apenas em sua auto-sustentação, ainda que seja Renato Russo, isso não é desculpa. Interessante foi ver a dita epifisiólise (rara doença óssea), logo no principio do filme, obstante, não se cumpriu o prometido. Fui ao cinema imaginando ver o lado jovem, a lá begins de Renato Russo, o início e o surgimento do poeta-gênio de minha época. Mais do que isso, busquei na trama o remeter da história de amor e carinho, das canções que até hoje me tocam. Muito embora sutilmente vacinado, de peito aberto e ‘desarmadurado’ me atirei. Esperei algo de maior densidade - fui vão, o mais próximo foi na descrição da escolha do pseudônimo ‘Renato Russo’ (inspirado nos filósofos Jean-Jacques Rousseau e Bertrand Russel, além do cineasta e roteirista inglês Ken Russell).
Cinebiografias nunca são fáceis é bem verdade, sofreu o roteirista com a pressão da família de Renato, normal - mesmo assim o diretor foi medroso. Resultado, o texto foi covarde, fazendo sofrer o espec(ta)dor na forma como tratou o longa. As canções, a homossexualidade, o Capital Inicial, o Paralamas (entre muitos), e finalmente o testemunho do nascimento da Legião Urbana através do extinto Aborto Elétrico - tudo rodeado de uma ótica banal e superficialmente boba.


As questões alegóricas também me incomodaram excessivamente. Não se pode literalizar exageradamente os acontecimentos de uma história, neste caso ‘letras de música’, constrange(a)DOR por momentos – vergonha alheia escutar personagens dizendo: “Festa estranha, gente esquisita”, nossa que medo! Com atuação rasas, beirando o total amadorismo com pipoca, Somos Tão Jovens foi uma versão da Legião na Malhação, ou pior, na Rede Record. Salvou o menino que fez o papel de Renato. Na verdade talvez até deixe-nos uma pergunta, um grande ator ou um belo imitador? Foi hilário ver o rapaz (nem sei quem é Edu Moraes), se fazendo passar por Herbert Vianna. Ridículo, exageradamente caricato, mais parecia um adolescente prensando um baseado no arrastar da fala.
O que vi na tela foi uma versão barateada de Malhação, além da superficialidade enlatada, rasa por demais. Não se pode eliminar a profundidade das coisas, ainda mais em se tratando do mito que foi Renato Russo, seria quase como se construíssemos um castelo sem alicerce. Pegue a falta de experiência, (atrelada a) um fraco embasamento, soma-se isso ao um impressionante número de inconsistências, mais cedo ou mais tarde tudo desaba, foi o que aconteceu. Perdão a trocadilhagem, mas desta vez a coisa ficou russa pra Renato, ainda mais para uma legião ávida por conteúdo. No meu caso, eu prefiro o velho ao vazio do banal, e de fato, foi um aborto - arcaico, sem cor ou vida e definitivamente sem eletricidade alguma. Se Renato disse que “não temos tempos a perder”, bom... neste dia eu perdi!
FAROESTE CROQUETE
Provavelmente uma das tramas mais famosas da história da música brasileira, nascida num momento onde os fãs reclamavam que Renato Russo não compunha sobre as raízes do povo brasileiro. Mas quem que nunca imaginou ver filmada a épica história de João de Santo Cristo? Eu não. O clássico foi composto em 1979, tem exatamente 168 versos, nove minutos e trinta segundos canção, todos convertidos em mais de 100 minutos estruturados pra tela grande. Faroeste Caboclo retrata a saga do anti-herói brasileiro, do seu nascimento até o catártico enfrentamento western de vingança e ódio entre Jeremias e João de Santo Cristo! Como estrutura fílmica, devo dizer que foi bem mais sucedido que Somos Tão Jovens, funcionou. Ainda que os separemos em caixinhas distintas, não se pode esquecer que trata-se de uma canção, enquanto o outro, uma trama biográfica.
 
IMPRESSÕES
O diretor René Sampaio acerta na ‘desromantização’ da letra, o que tornou possível o improvável, fazer o (in)competente texto de Victor Atherino e Marcos Bernstein de canção virar roteiro, e por sua vez, um filme! A espetacularização contida na história poderia destruir o filme por completo, a ausência das câmeras da gente da tv juntamente a via crúcis que jamais vira circo também foi exitosa. Sampaio foi muitíssimo feliz optando por uma crueza nordestina na força da fotografia, onde a solidão e as lembranças de Santo Cristo são muito bem desenhadas. Cabe ressaltar que estes pequenos elementos, foram de longe INSUFICIENTES para justificar a fraqueza esquelética do longa.
Nas deixas onde aparece Brasília na década de 80 precisei me esconder, fracasso anunciado. Entre os núcleos de Maria Lúcia (Ísis Valverde) devo confessar minha profunda e já prevista decepção, as atuações de Valverde são mornas, a opção por transformá-la em filha de um senador (Marcos Paulo) poderia ser interessante, mas não convence. Também foi triste ver ‘globais baratos’ sendo empurrados goela abaixo, Valverde em telas caseiras, no folhetim das 9 pode até funcionar, aqui definitivamente não convence, jamais deveria ser colocada na mesma tela de nomes como Antônio Calloni, que diga-se de passagem, tem muitíssima presença na telona, queria vê-lo mais vezes.

Fabrício Boliveira como João de Santo Cristo foi bem, mas não passou disto. As soluções dramáticas dadas ao casal são lamentavelmente fracas, tem a profundidade de um pires, não se pode acreditar que tamanha superficialidade possa ter causado o fatídico duelo. Por fim acho de extremo mau gosto essa insistência em transformar livros (e músicas) em filmes. É uma ideia (não só) do cinema brasileiro, mas que em nada faz-nos crescer artisticamente, apenas (n)os bolsos da indústria. Desta vez farei diferente, poderia citar mil situações pra justificar minha opinião acerca do vi e ouvi, entretanto(s) ficarei apenas com mais um momento: Jeremias se fazendo passar por Tony Montana (Al Pacino em Scarface) esfregando o rosto na cocaína, meeeeeeeu deus, lamentavelmente TERRÍVEL. Não acredita? Assista e encare os sustos se puder!
SENÃO VEJAMOS
Perceba que esta critica é também um protesto, para que casos como este devam repousar internamente em nossos corações, entre as mais queridas lembranças de nossos heróis e vilões. De memórias nascidas (acompanhadas) e crescidas através de uma maturidade mútua, não das construídas artificialmente, ‘a toque de caixa’. Lidar com ícones dessa magnitude é bastante complicado, seria quase como as frases que moleque escutava dos mais velhos: “Não mexe aí guri, isso é uma relíquia!” São nossos tesouros, e desta forma faço a mesma relação no que diz respeito à maioria das refilmagens, (re)mexer em clássicos, seja da literatura, cinema ou música, penso ser totalmente DESNECESSÁRIO. A desculpa é sempre a mesma, para as novas gerações, bobagem, a nova geração é antenada, não precisa de subprodutos.
É bem verdade que ainda somos nós - tão jovens, caboclos e cheios de eletricidade descapadamente viva, mas aqueles que ousarem tentar retirar-nos isto, estarão subestimando a força não apenas de uma geração, mas de uma LEGIÃO. Nem Coca-Cola nem Y-Z, mas dos que tem sede à informação - sem industrialização barata do cinema (caça-níquel), queremos pintar o sete e a sétima arte, não só de panis et circenses - de circo e pão, nós queremos CINEMA, pipoca e um pouquinho de atenção.
* Chega do cansaço de ser poeta (pseudo) pensador de filtro solar, que exprime opinião, mas se furta à exposição.
Faroeste Caboclo (2013) TRAILER