Existe sim um quê de nostalgia que perpassa o filme e nos remete as comédias musicais da época de ouro do cinema americano. Um dos primeiros acertos de seu diretor é não é justamente não buscar reeditar o que outrora foi feito, mas apenas remeter a esses feitos. Assim assistimos um filme que nos remete a outros, sem que, no entanto, percebamos isso de imediato. Assim o autor faz uso em sua criação do alicerce de outros (Duas Garotas Românticas (1969), Juventude Transviada (1955), A Roda da Fortuna (1953), etc.) o que a primeira vista pode desagradar os puristas, com o andar da projeção mostra-se uma decisão acertada. O filme vai num crescendo.
Los Angeles é vista como uma cidade que transforma cada momento pueril em uma cena de sonho, de cinema. O diretor não se envergonha da memória que existe em cada canto da cidade e faz uso dela de forma inteligente. Uma cidade vista misticamente como a terra dos sonhos (apesar dos engarrafamentos e de todos os problemas trazidos pela modernização). Ainda que notemos que o par central deve ter se preparado para conquista um mínimo razoável de qualidade cantante e dançante, não podemos exigir que atingissem o êxito de um Astaire, uma Ginger Rogers ou um Gene Kelly. E nem era esse o objetivo, como vou deixar bem claro.
Emma Stone e Ryan Gosling formam um par interessante e contribuem para que o filme funcione. A própria história de amor entre eles vai mudando de tom como as próprias estações do ano aos quais o filme se refere. Ainda que elas se tornem a repetir, tanto os personagens como a própria estação não retornam idênticas ao que foram. Notamos desde o início que o desejo da personagem para com ele não possui a mesma intensidade do dele para com ela. Ele aceita negar o seu sonho para manter o relacionamento. A cena do voo e suas variações é um transbordar dessa entrega total de um ser para com outro. E daí o autor nos mergulha num soçobro, num Tratado de uma desilusão amorosa em meio as aspirações de uma carreira frustrada. Um naufrágio lento e digno; é esse um dos pontos forte da obra, negar o esperado “final feliz” nos deixando na boca e na alma, uma sensação de melancolia nostálgica. Não se pode mais reproduzir o que foi realizado, mas é possível sim não o esquecer.
Quase ao seu término (a sequência final é o ápice da obra) um solo de piano. O espetáculo foi digno, a integridade artística foi salva, o público (daquele pequeno clube, bem como o presente na sala de projeção) está com os olhos vidrados e embaçados, mas o olhar do par central se cruza entre eles, parecendo querer nos dizer algo como: Vale sempre a pena insistir no sonho, não é?
Uma obra honesta que merece ser vista, pelas escolhas sensatas de seu timoneiro.