A primeira vista podemos pensar que se trata de uma dessas comédias românticas que a indústria cinematográfica produz as dezenas. Ledo...
A primeira vista podemos pensar que se trata de uma dessas comédias românticas que a indústria cinematográfica produz as dezenas. Ledo engano. Não que o filme não passeie pela comédia e não resvale no romantismo. Muito pelo contrário, encontramos em seu bojo elementos que reforçam a tese de que é apenas mais uma comédia romântica. Só que sua diretora, conseguiu escapar das armadilhas que tornariam a obra um verdadeiro “déjà vu”. A história parte de uma premissa até certo ponto simples. Um camponês cuida de sua fazenda com a ajuda de sua esposa. Ela morre de maneira repentina e trágica. Ele, mais que a falta da fêmea e companheira, sente em realidade a ausência de alguém com quem compartilhar as tarefas existentes na fazenda. Aymé Pingrenet (Michel Blanc – numa interpretação fantástica) resolve apelar então para uma agência matrimonial (visto que não dispõe de tempo para flertar), que ao ouvir suas necessidades, orienta-o a buscar uma romena. De início ele reluta, mas sua incapacidade de lidar com a ausência de uma ajudante acaba por conduzi-lo a Romênia. Lá ele escolhe Elena, pelo seu ar robusto (não por suas curvas) que o faz concluir que será uma boa ajudante. Ela também está interessada em cativar esse homem, a fim de poder enviar dinheiro a família que permanecerá na Romênia (sobretudo a filha de seis anos). Como vemos uma idéia simples e a primeira vista pouco original. Um homem mais velho que irá conquistar e ser conquistado por uma mulher mais jovem. A diretora entretanto coloca tal argumento de uma forma muito particular. Mais que uma comédia romântica trata-se de uma crônica social e de costumes. O mundo que cerca Aimé (rural) é nos mostrado sem aquela maneira que estamos acostumados a ver (ou imaginar). Não se trata de um mundo caricato, ele remete a realidade européia. Existe naquele país uma falta de mão de obra que se dedique ao campo. Existe também um certo preconceito quanto aos africanos, as pessoas do Leste europeu e também aos latinos – quer europeus ou não, que poderiam suprir essa falta. Isso fica evidente, quando em um diálogo que nada tem de romântico ele a chama de puta (já que é romena). Notamos que quase todo o trabalho na fazenda é secundado pela tecnologia, que serve para suprir a ausência do homem. Em uma tomada a meu ver simples, mas que comparo seu alcance as melhores da história do cinema* , toda essa idéia é sintetizada: Aimé almoça acomodado na roda traseira de seu trator. Só vemos ele e a roda. E ela o suplanta em tamanho. Um simples apêndice de uma máquina é maior que o ser humano. O campo cada vez mais pertence também as máquinas. O filme em um momento também critica a visão romantizada do mundo, vendida pelos americanos com as suas Óperas Sabões (as nossas novelas). E foi um aviso dado logo no início da película, quando Aimé chama a atenção da esposa. Lógico que não veríamos uma comédia romântica. Os momentos de humor são vários e dos melhores: Destaque para a hilariante seqüência das s entrevistas com as postulantes a esposa na Romênia (que dá o título ao filme). No final vêm-nos a certeza de que o que motivou a feitura do filme foi a critica a questão da pobreza que faz com que mulheres do leste europeu queiram sair desse estado, permitindo-se virarem mercadoria. Para aqueles que buscam enquadramentos rebuscados ou efeitos especiais um aviso: Embarcaram no trem errado. A diretora optou por manter distância da indústria americana. O ritmo do filme é aquele do campo( Que já está bem acelerado, diga-se de passagem). Mas o destaque do filme é seu elenco. Michel Blanc e Medeea Marinescu estão sublimes. Ele consegue dar toda uma gama de emoções e sentimentos ao seu personagem. Ela se mostra uma atriz de rara sensibilidade e potencial dramático: Não permite que ele lhe faça sombra. Cumpre aqui dizer que o elenco secundário também dá conta do recado. Palmas para a diretora que não permitiu o adentrar de caricaturas. Em suma um filme que a princípio pouco prometia, mas que se tornou a meu ver uma das gratas surpresas francesa dos últimos anos. Belíssimo trabalho de Isabelle Mergault. Um nome que desde já merece nossa atenção redobrada. *Veio-me a lembrança a cena em que o personagem vivido por Keaton em “A General” , após perder a amada, é conduzido nas (pelas) engrenagens de sua locomotiva sem se dar conta. Escrito em 03/10/2007 por Conde Fouá Anderaos |