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A Lança Partida (1954)

Faroeste clássico, ganhador do oscar de melhor roteiro para Philip Yordan que em realidade foi simplesmente o testa de ferro de Richard Murphy (Pânico nas Ruas) que a época constava da lista negra do Macarthismo. Talvez a academia tenha se empolgado com a releitura dada ao romance de Joseph Weidman que se passava em outra época e lugar e que aqui ganhou uma profundidade inusitada ao trazer para a tela questionamentos como Civilização e Barbárie, racismo, proteção do meio ambiente, o progresso inevitável; enriquecidos de um estudo psicanalítico de vários personagens, ainda que consigamos nos fixar em apenas dois, devido aos competentes interpretes que lhe dão vida: Spencer Tracy (Matt Devereaux) e Richard Widmark (Ben).

A figura ambígua do patriarca, que nos é mostrado de forma nua e crua, como um homem que não escuta ninguém e é movido apenas pelos seus interesses, convence. O conflito familiar entre ele, que busca a justiça feita pelas próprias mãos e os filhos que acreditam no estado de direito, permeia todo o filme.

O declínio econômico se aglutina ao físico do próprio personagem. Um homem que não percebe que é necessário acompanhar as mudanças e por isso se prende ao mundo já conhecido que não pretende que mude jamais. Os filhos, ao contrário, percebem (talvez por interesse de se libertarem do jugo patriarcal) que as mudanças são o futuro: Cobre, Petróleo, Ferrovias, etc.

As maiores virtudes e os defeitos da obra nascem justamente da direção de Edward Dmytryc, um cineasta capaz de obter interpretações brilhantes de vários artistas, mas que se perde em sua própria ambição, devido a não possuir fôlego para tal. Aqui nota-se claramente que o filme é curto, existia material para pelo menos mais uma hora de filme em alta qualidade. Falta ao cineasta o senso do ritmo, de amplitude dos temas a desenvolver e sobretudo paixão e vida. O início prometia muito, o roteiro poderia ter explorado bem mais o drama familiar e o pano de fundo de um mundo tocado pela revolução industrial em crescimento constante, com profundas reflexões sobre o meio ambiente (a poluição, destruição da fauna – o lobo, do espaço dos povos indígenas, etc) e o racismo. Mas o diretor permite que o roteiro aponte, mas o filme não se aprofunda em várias questões. A decadência de um mundo que não tem mais motivo de existir (O dos barões do Gado) mesclado a vários outros questionamentos. Devido a essa falta de coragem (ou vontade) é nos passado uma sensação de frouxidão.

O elenco parece (apesar das ótimas interpretações de Widmark e Tracy) ter sido mal aproveitado. Katy Jurado a cada cena nos soa tocante como a esposa, mas não se abre espaço para o seu brilhar. Os personagens de Earl Holliman e Hugh O’Brian são colocados de lado e isso soa terrivelmente incompreensível. Robert Wagner dando vida a Joe Devereaux, apesar de não extenso na tela, fatiga-nos. Parece não ter nada a dizer. Já de Jean Peters queremos mais, mas sua aparição é diminuta A sensação ao término da projeção é de um grande filme não finalizado. Sobretudo devido a alguns grandes momentos do mais caprichado cinema que podemos esperar: o do diálogo entre o Governador e Matt Devereaux sobre o futuro da filha com um mestiço; aquela do confronto entre Ben e Matt, em que o primeiro finalmente joga na face todo o rancor adormecido durante anos, justamente no momento que ele sabe que o pai não terá como revidar.

Filme de um grande virtuosismo técnico, elenco grandioso, boas interpretações, que permanece acima da média, mas que decepciona pelo potencial que possuía. Uma pena.

Escrito por Conde Fouá Anderaos