Like Box

header ads

A Caixa de Pandora (1929)

“Schön rico dono de um jornal encontra-se atraído por Lulu. Lulu seria o que chamaríamos hoje de uma jovem liberada, mas na época tinha a alcunha de perdida. Apesar da atração Schön tem consciência que se unir a ela é assinar a sua própria pena de morte. Circunstâncias que fogem do controle fazem com que tudo desague num casamento e a tragédia está anunciada.”

Espécie de filme maldito, que ficou no limbo por várias circunstâncias. Primeiramente pela força de sua linguagem e do tema perturbador para a época (as peças que serviram de base para o filme foram escritas no começo do século e a história originalmente ocorria em 1888). Posteriormente por Pabst ter caído em desgraça na Europa com o advento do Nazismo. E por último pelo que ele criou em termos de mise-en-scène que acabou por confundir os críticos e o público da época: sobretudo pela presença de Louise Brooks que serve como elemento de fascínio e estranheza em cada aparição. A personagem principal segundo a lenda, fora criada inspirada numa russa chamada Frank Lou Andréas-Salomé que o autor (Frank Wedekind ) havia conhecido e que fascinara várias celebridades de seu tempo: Freud, Nietzsche, Schnitzler, Jung e Rilke entre outros.

Pabst procurava o tipo certo para encarnar a personagem. Todas as atrizes disponíveis o desagradavam e a produção ficava preocupada. Conheceu pelas telas Louise Brooks e se encantou, desgostando e deixando perplexo todos da produção. O problema é que a Paramount a mantinha sobre contrato e tudo fazia crer que o papel seria de Dietrich. No entanto Brooks livra-se do empecilho e viaja a Europa. Trata-se de cinema silencioso o que permite que a atriz (nova) não necessite dominar o idioma em que a obra será produzida. Ela servirá como quebra de paradigma, pois também não terá um contato prévio com o material que será filmado. Portanto a Loulou que surge em cena toda natural é a própria Brooks deslocada do cenário em que reinava. E que reinará em outro, deixando a equipe e seus parceiros de cena sem compreender o que se passava. O grande ator Fritz Kortner ensaiara várias vezes a cena de sua morte. De nada lhe serviu, pois ainda que a estrutura narrativa seja alicerçada na peça teatral, a presença de Brooks dotou tudo de uma naturalidade e exigiu do elenco algo que eles não perceberam. Poderia dizer que certamente alguns tiveram a sensação de Claudette Colbert quando terminara as filmagens de Aconteceu Naquela Noite: Não compreendera nada do que fizera. No entanto o diretor sabia bem o que estava fazendo. Uma das grandes surpresas ao ver o filme é a agilidade, a modernidade como tudo se encadeia. E todo o elenco (maravilhosos) entregam performances sublimes. Fritz Kortner é um gigante da arte de interpretar, mas Francis Lederer, Carl Goetz e demais estão no mesmo patamar. Marcam com o que entregam.

Loulou não é uma mulher imoral, ela é mais inconsequente, não se enquadra dentro da sociedade. Ela não está presa a rigidez dos costumes e o erro cometido por todos é a tentar encarcerar. E ao tentarem acabarão sendo devorados por ela, sem que ela necessariamente o queira. Apesar de tudo não se trata de um melodrama, nem de uma tragédia shakespeariana ou grega. Pabst conta a história na época em que vive. Desenvolve a história se valendo dos diversos estratos sociais existentes que conhecia muito bem, pois vivia neles. No final o personagem muda de cenário e o filme parece se encarcerar numa outra época. A época original de onde a história se ambientara no teatro. Alguns vão criticar a performance da atriz justamente naquilo que foi o ponto forte. A personagem entregue parece não sentir nada, não se emocionar, não possuir objetivos. Vive o momento e desestabiliza tudo a seu redor. Foi justamente isso que serviu de fermento para engrandecer a obra, tornando-a tão instigante passado quase um século de sua feitura. Não conseguimos imaginar o que seria do filme se outra fosse a atriz escolhida. Certamente o tempo o teria soçobrado.


Escrito por Conde Fouá Anderaos