Prazer, literatura e contemplação. Serra, durante seus 148 minutos ambiciona discutir todos esses temas com uma liberdade autoral significativa.
Como um filme de contemplação da imagem, Albert Serra, parece unir os temas expostos com a condução da imagem. Por isso, não atoa, das passagens de Voltaire até Montesquieu e o catolicismo, viajamos pela imagem estática, de longos planos-sequências, descritivos e focados em uma única persona, extremamente literários e contemplativos. Mesmo assim, existe um modo de filmar, que Serra imprime em seu História de Minha Morte (Història de La Meva Mort, 2013), que não se restringe ao modo “literário” de captar as imagens, não como meras fotografias ou belas pinturas, mas sim de um modo a falar com o cinema, já que o movimento, ainda que minucioso, está presente em cada frame, substituindo o diálogo.
O tom de fábula de sua trama, parece atingir um nível teatral. Não, por menos, é com facilidade que sua trama cai com sua evolução, já que seu diretor filma muitas vezes sem falar com o espectador, ignorando sua presença. Embora, seja quase um projeto infilmável este que Albert Serra se propôs a desenhar nas telas do cinema, seu estilo sensorial de captar imagens, montagem e sons se completamente unicamente com a reflexão do leitor/espectador de sua história.
Não seguindo as normas padrões, Albert Serra parece estar sempre tentando ousar, desde sua narrativa até suas sequências. Seus personagens, totalmente figurados pela ausência de um sentimento, tristeza e consequentemente loucura, parecem ter saído de um conto fantástico, fantasmagórico. Serra, não filma com destreza as paisagens que seu filme apresenta, mas impõe uma busca por alcançar o espírito de seus personagens, por isso mesmo que sútil, suas sequências de sexo ou qualquer outro tipo de prazer, são atormentadas, não apenas pela imagem, mas pelo som, utilizando os recursos disponíveis que o cinema lhe oferece para incrementar sua narrativa literária.
No som da floresta, seja o silêncio, a chama fogueira queimando, os estranhos barulhos, não há melhor maneira de descobrir sobre a figura mitológica, se aventurando na mata afora. Ainda que seja uma fábula do tédio, do prazer insatisfeito, História de Minha Morte (Història de La Meva Mort, 2013) é também, o uivo da criatura que nunca se viu, mas sempre se ouviu.