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O Império Dos Sentidos (1976)

Esse filme ganhou as telas brasileiras no início dos anos 80 (A produção é de 1976). A época não tive curiosidade de o ver. Todos comentavam e digo sinceramente que achava o tema assustador, apesar de muitos conhecidos que o viram o achar pornográfico. Vi-o somente agora e através do DVD. Ao findar a projeção uma certeza: Apesar do explícito, não se trata de um filme pornográfico. É um filme que se vale da pornografia para falar de questões muito mais profundas. Também não o julgo erótico, já que em mim despertou pouco a libido. O diretor sinceramente não estava interessado em desperta-la. Ao contrário queria chocar aqueles que buscavam um pornô comum e também aqueles que iriam ver o filme o rotulando de arte. E de onde nasce esse chocar? Com certeza não do tema a ser tratado. Aqui se fala do hedonismo (visto sobre um ponto de vista muito particular) levado as últimas consequências. Fosse só isso, já bastaria para ser temido. Mas ele o contrapõe ao Nacionalismo Militarizado extremado que dominava o país (O Japão) a época em que a história se dá. É um filme de excessos onde a busca de sentido para a existência ganha contornos dramáticos (Sabemos como terminou o desejo de expansão militar japonês). E cada vez mais vai se apercebendo para onde caminha a busca desenfreada de prazer do casal de amantes. A Cena chave que exprime tal verdade é quando vemos as tropas imperiais marchando perfiladas pelas ruas sendo ovacionadas pela população (um ano depois tem início a Segunda Guerra Sino-Japonesa) e Ishida caminha em sentido contrário, na demanda da amante para mais uma maratona de sexo sem limites. Dois caminhos supostamente distintos, mas iguais por serem extremos.

Leve-se em conta também que o que choca no filme é que tudo se encaminha para ser conduzido pela mulher. É dela que nasce os desejos mais exaltados e o desejo de domínio sobre o outro. Num certo sentido Ishida até aprecia deixar as rédeas nas mãos de outro. Afinal ao menos para ele tudo teria um findar, um término. Essa espiral em busca de um prazer cada vez maior é que torna tudo mórbido. Não se tem limites e esquece-se que tal existe. É impossível ultrapassar certas barreiras. Sada crê que suplantou. Mas se o suplantar não a levou a algo mais, onde a suplantação? Aqueles que pretendem ver o filme, crendo ser algo aprazível, desde já fujam. Trata-se de um drama que se vale do pornográfico. E o que reforça mais a sensação de mal estar ao fim da projeção é o saber que tal história é alicerçada em um caso verídico. O filme para aqueles que ousariam supor que houve exageros no que foi narrado pelo seu autor causa mais calafrios ainda. Aquele que procurar a verdade sobre Sada Abe, após a projeção, encontrará mais pontos de ligação do que exageros de um cineasta ensandecido. Prova de que o que vemos na tela foi cerebralmente elaborado. Não com o intuito de nos dar prazer. O objetivo do filme, ainda que venha a se valer de uma linguagem erótica e pornográfica é o de chocar e nos fazer pensar. E para tal o cineasta se coloca na posição de alguém neutro, imparcial. Ele parece dizer: A história foi contada. Não me peça para julgá-la.

Para mim o que fica da projeção é a certeza de que todo o excesso pode ser pernicioso. Ele anula o racional.

Não posso dizer que se trata de um filme que me agrada. Sem querer parecer reacionário ou puritano acho que se pode tocar em temas como esse sem se valer de excessos. Mesmo se falando de hedonismo (e me vem a mente Zorba – que tinha um quê de epicurista e estoico) e na busca desenfreada pela satisfação dos instintos a visão do diretor não me agrada. . Oshima optou por se valer do escancarado, sem soar apelativo. Acredito que possa haver outros caminhos. Ainda que o que nos foi legado não possa ser desprezado.

Acho que toda obra não deve ser proibida. Nada é ilícito, porém nem tudo convém. Oshima tinha talento para dar seu recado sem se valer do explícito. Acredito que os envolvidos no projeto, falo dos atores, tiveram seu nome atrelado de tal modo ao projeto, que prejudicaram suas carreiras. Tem certas coisas que devem ser só insinuadas. Não escancaradas. 


Escrito por Conde Fouá Anderaos