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Amor Por Contrato (2009)

“Quando Os Jones se mudam para um bairro chique de uma cidade americana, eles encarnam para aquela comunidade a família ideal. Não somente por causa de seu charme e simpatia, mas também devido ao aparato chique que os cerca: Uma linda casa, carros espetaculares, imóveis modernos e funcionais, equipamentos de última geração que facilitam sua vida, e a certeza de venderem a imagem que sempre possuem aquilo de mais moderno e útil em para todos os momentos de nossa existência. O único problema é que apesar de tudo isso essa família não existe.  Eles são empregados de uma empresa de marketing que visam impor ao redor deles uma série de necessidades para que se consumam os produtos que os patrocinam.”

Vocês já se depararam alguma vez com certeza com uma grande ideia mal aproveitada? Quando Steve Jones abre as portas para os vizinhos não são somente eles que são convidados a adentrar em um mundo feérico e crer que é possível uma convivência familiar plena de alegrias e se postar em uma fortaleza onde os problemas mundanos permanecem distantes. A questão é que em poucos minutos nos daremos conta de que tudo o que vemos é falso. Nada em si é real. E isso causa-nos uma frustração: Acreditamos no que nos transmitia Steve e seus familiares e talvez por isso passemos a nos comprazer mais com a armadilha montada pela sociedade consumista. Estremecemos diante das imagens suaves e ao mesmo tempo brutal do luxo e maquinário perfeito que cerca os Jones. É como se Barbie e sua turma estivessem encarnadas diante de nós.   Ao aproximar de maneira tão cruel o poder de marketing da Sociedade Americana (que o impõe ao mundo de maneira insistente e eficiente) inconscientemente sabemos que tal ameaça nos rodeia. Uma loucura posta de forma tão natural que somos seduzidos por aquela família, apesar de já nos ter sido informado que tudo é ficção. Mas passamos a torcer por eles, ou ao menos pelas estratégias que usarão para impor seu poder e assim ver também tombar na armadilha os demais que os cercam, assim como nós também caímos. Afinal é agradável crer no sofisma de que o dinheiro pode comprar a felicidade.

O que vai enfraquecer o filme é justamente a mudança de foco. Ou pelo menos como o roteiro a conduz. Ao tentar mostrar que o homem não pode ser condicionado ao que lhe é imposto o filme desmorona. Onde? Dentro dos conflitos existentes dentro da própria família. A pseudo mãe não possui existência própria, a filha não suporta o vazio dos jovens e se interessa por homens mais velhos, o filho está deslocado: é um homossexual enrustido que para garantir o emprego não pode se revelar e pior, vive o conflito de ter de ser sedutor (com o sexo oposto). O chefe da família é um ex-vendedor e um tenista fracassado. É desse personagem que surgirão as melhores cenas. Afinal ele já estava dotado de certas virtudes para enganar os demais: Pode demonstrar seus conhecimentos no golfe, já foi um vendedor e possui para isso todo o aparato que lhe dá a condição para ser o que sempre quis ser: Respeitado e admirado. Não deixa de ser o eterno adolescente que quer se firmar, mas ainda não encontrou seu lugar.

Que as questões existenciais deveriam adentrar na tela é claro. O problema é que ocorreram de forma abrupta ou superficial. Essa mudança de tom, da ironia para um drama familiar, foi desinteressante. No entanto a ideia mestra ainda segura o interesse.  O espectador se sente atraído por essa comédia de costumes lamentável, um conto de moralidade dúbia, que desperta em nós uma familiaridade sobre o mundo que nos cerca.  E ainda que o diretor tenha se enveredado por um roteiro equivocado (escrito por ele mesmo) o filme ainda prende. Pena que exista essa barriga no meio. Tivesse ele se prendido ao seu início e pincelado apenas essa parte existencial (ou a refletido em suas vítimas) estaríamos diante de uma obra prima. Ele não deveria se envergonhar do legado adquirido no mundo que ousou retratar (trabalhou com marketing) e deveria ter continuado a desferir o olhar arguto que tão bem mostrou ter sobre o retrato do mundo que o cerca.

O elenco em si funciona bem, mas notamos que Demi Moore destoa um pouco, talvez por se preocupar muito com sua aparência (que poderia ser explorada de forma a enriquecer o que se retrata) ao invés de se encarnar no personagem. Temos também uma Amber Heard que não mostrou somente a sua beleza em cena e um Ben hollingsworth  que destoa. A cereja do bolo é David Duchovny. Preciso e a vontade no papel, ele sobra na tela. Uma ideia genial e um ator inspirado não bastam, no entanto para se conceber um filme ótimo. Falta fluidez no roteiro e ousadia. Ousadia que seu autor mostrou ter, mas que travou de motivo inexplicável. Uma pena.