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Crazy Horse (2011)

Quando a noite cai em Paris o Crazy Horse – nosso ponto de encontro – se ilumina. Crazy Horse é o refugio das noites parisienses, um encontr...

Quando a noite cai em Paris o Crazy Horse – nosso ponto de encontro – se ilumina. Crazy Horse é o refugio das noites parisienses, um encontro entre as artes e a belezas, um espetáculo não só do puro nudismo. Da forma como somos apresentados ao Crazy, é senão igual, semelhante á multidão que senta em seus confortáveis cômodos todas as noites e espera para ver o espetáculo, porém para Wiseman não basta, mergulhamos logo após o espetáculo a uma rotina diária de garotas, jovens dançarinas que para nós é totalmente estranho e desconhecido (uma rotina de quem faz arte rotineiramente). Por que Crazy é um show, um espetáculo, uma sessão de cinema.

As dançarinas são postas para o ensaio e assim Frederick não só desmistifica o olhar além da dança que somos apresentados, mas também coloca para nós uma dúvida sobre realidade e ficção. Os espetáculos performáticos do Crazy são cada um algo único, mas é da magia dessa arte da mentira que somos vinculados, por que para nós há sempre uma perfeição em todos os passes, todas as danças, pernas, corpos e sincronias e uma naturalidade potente. Mas quando Wiseman nós mostra finalmente os bastidores das performances, somos enviados finalmente ao seu mundo, o perfeccionismo de quem dirige essas peças, a paixão de equilibrar na balança a perfeição e a qualidade.

Crazy Horse(2011, idem) é um filme de cinema, sobre a paixão dele, não é atoa que as performances feitas pelas garotas(os instrumentos principais usados) sejam sempre lançadas a um jogo de luz e sombras(que se inicia e termina o filme) para mais do que sensualizar, além do erotismo, emocionar, apreciar as imagens. Por isso que um dos maiores amantes desse lugar, assume que cada espetáculo produzido tenta pelo menos resgatar ao que seria uma emoção presente em filmes como de Fassbinder, Michael Powell. Luzes, sons, o Crazy é uma tremenda experiência audiovisual que atrai nossos olhos não só para a técnica posta em prática, mas a um perfeccionismo de toda a equipe que faz nascer desse cinema rotineiro (falado com o corpo) um espetáculo em um pequeno cabaré, e é isso que motiva Frederick, desse deslumbramento, fascínio de imagens que se fundem em uma peça só, algo verdadeiramente presente, por que ele trabalha com a mentira, a verdade escondida por trás da ilusão.

O documentário no mundo de Wiseman é um lugar onde se propicia muito mais do que o convencional que é de pessoas falando na câmera, dando suas opiniões, mas principalmente da observação da arte – contudo, a dança – como ela convoca a todos nesse lugar precioso. A noite vai chegando e ele vai se preparando em um plano geral(somos curiosos infiltrados) vemos toda a beleza do Crazy se fundir com uma muito próxima do cinema até mesmo em seu espaço físico cadeiras vermelhas, degraus acesos na escuridão, champanhes(por todas as mesas como se fossem pipocas) e enfim os clientes estão prontos para ver rodar as belezas da casa. Fotos pra lá e pra cá, mulheres e homens, tornaram este lugar já em um point tão comum que descartaram muito o preconceito de várias pessoas em relação a essa arte que desde o começo da sua história vem sendo marginalizada. Frederick une o espectador, o realizador e as garotas tão próximos que não vemos barreiras algumas, somos iguais em sua narrativa, aprendendo a ver o fascínio que o Crazy vem acumulando em anos, transferindo emoções para todos.

A dança para Wiseman se compreende em um espaço tão importante quanto qualquer arte, e é daquela mesma visão, compreensão, paixão de quem fala sinceramente para sua câmera, sobre a beleza dos corpos que vemos como foi sugerido em seu início, que as danças não se limitam apenas a mostrar belas nádegas ou peitos, mas sim um espetáculo sensual em que nossas dançarinas mostram através de seus passos, de suas poses, metamorfoses, feras, algo tão mágico e fascinante que enlouquece quem vê (voltando a forma de uma criança vendo tudo aquilo), pois não está dentro de uma gigante tela de cinema, está ali ao vivo fazendo uma apresentação real, onde se sente os suspiros de cada dançarina, as suas dificuldades e seus enlaçamentos umas com as outras. Por isso que assim, tanto o cinema, a música quanto a dança se transformam em algo conjunto, tão performático quanto as meninas dançando no palco, desse modo Crazy Horse(idem, 2011) adota uma carga narrativa tão semelhante a F For Fake, quebra tudo e fala conosco acerca dessa arte e através dela, discute e revela seus bastidores e a verdade de Wiseman, entre esses laços da arte, da dança, do cinema, da música se revelam até mesmo no mais simplório jogo de luz e sombra.