Segunda Guerra Mundial. Um major indisciplinado interpretado por Lee Marvin recebe a missão de liderar um grupo de 12 homens condenados à morte ou a prisão perpétua em um treinamento que visa transformá-los em soldados para, em seguida, mandá-los à Alemanha em uma missão quase que suicida para explodir uma residência e matar todos os oficiais nazistas que ali estariam. Sob um primeiro olhar mais superficial, Os Doze Condenados pode parecer um ode à guerra, mas com uma visão mais aprofundada, percebe-se que se trata exatamente do contrário. Cineasta dos mais livres, por assim dizer, que Hollywood já viu, Aldrich via sua liberdade diminuir cada vez mais em território Ianque. Após um início de carreira ótimo, que lhe rendeu a admiração dos norte-americanos, sua ousadia em A Grande Chantagem ao criticar Hollywood acabou desfazendo essa visão. Após seu filme seguinte, Folhas Mortas, que assim junto com o anterior foram premiados em festivais pela Europa, Aldrich meio que percebe que a Europa pode ser seu verdadeiro lugar e parte para lá, onde fica cinco anos. Em 1962, Aldrich retorna aos Estados Unidos e filma O Que Terá Acontecido a Baby Jane, sucesso de crítica por lá, nem tão bem dentre os críticos europeus. Após mais cinco anos na América, o diretor retorna à Europa, mais especificamente à Inglaterra, e roda em 1967 seu Os Doze Condenados, um filme recheado de uma mensagem anti-militarista, encoberta por um pseudo-positivismo. Os Doze Condenados acabou por devolver a liberdade de Aldrich e marcou o início de uma nova fase do diretor, onde ele apresentaria um estilo mais europeu de se fazer cinema, digamos assim. Embora acusado de fascista por alguns, tal acusação obviamente não cabe. Primeiro porque a primeira incursão de Aldrich pela Europa lhe deu contato com as ideias comunistas com as quais ele se identificou em partes. Segundo porque a mensagem pricipal do filme é a de que assassinos se tornam os melhores soldados. E vice-versa. A cena final ajuda a reforçar esse anti-militarismo, ao mostrar o suposto "heroísmo" vindo através de uma carnificina terrível. No começo de sua carreira, os filmes de Aldrich contavam com apenas um personagem a ser explorado, como em Apache. Com o passar do tempo, essa abordagem se ampliou para um personagem profundo e diversos outros não tão bem abordados, como em A Grande Chantagem, e a alguns poucos personagens, mas trabalhados a fundo, como em O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Em Os Doze Condenados e em seu filme anterior, O Vôo da Fênix, Aldrich passa a dar uma abordagem excepcional ao se utilizar de um núcleo grande de personagens, cerca de 12 nos dois casos, mas com cada um tendo sua personalidade própria. Nota-se também uma semelhança entre ambos os filmes no ponto em que todos os personagens compartilham de um objetivo comum. Como em todo filme do diretor, aqui o elenco é mais uma vez impecável. Conta-se que quando do lançamento desse, tal filme era considerado a maior coleção de figuras do cinema em torno de um roteiro sólido já visto. Nomes como Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, John Cassavetes, Donald Sutherland, George Kennedy, Ralph Meeker, Robert Ryan e Telly Savalas compõem esse elenco que ajuda a engrandecer ainda mais o filme, principalmente da parte de Cassavetes, o diretor que inventou o cinema independente, e que no papel do arredio Franko, conseguiu sua única indicação ao Oscar como ator. O ritmo que Aldrich toma nesse filme pode não agradar a grande parcela masculina que assiste a um filme à procura de uma mistura de adrenalina com testosterona. O filme evolui de modo calmo, totalmente sem pressa. O primeiro tiro só é disparado com quase uma hora de projeção, coisa que Kubrick também viria a utilizar em Nascido Para Matar. Mas o grande questionamento do filme fica no encargo das mortes. Ao mostrar os nossos "heróis" morrendo, nazistas "vilões" sendo massacrados e um condenado à morte sendo enforcado, Aldrich nos questiona: Qual a diferença? E no final, realmente há de se perguntar, qual a diferença?
Os Doze Condenados (1967)
Jorge
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