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Uma Batalha Após a Outra (2025)

Há filmes que prometem a grande guerra final. Uma Batalha Após a Outra é mais honesto: avisa logo no título que a vida não entrega catarse,...

Há filmes que prometem a grande guerra final. Uma Batalha Após a Outra é mais honesto: avisa logo no título que a vida não entrega catarse, só continuidade. E, curiosamente, transforma essa constatação — meio amarga, meio adulta — no seu maior trunfo narrativo.

À primeira vista, o filme se apresenta como um drama de conflito (interno e externo), estruturado em confrontos sucessivos que parecem sempre preparar algo “maior”. Mas o truque está aí: o roteiro brinca com nossa expectativa de clímax definitivo para, no fundo, desmontá-la. Cada vitória vem com um asterisco; cada derrota, com um manual de sobrevivência. O que está em jogo não é vencer, e sim seguir.

Sem entrar em spoilers pesados, o filme acompanha um protagonista que se vê empurrado de um confronto ao outro — profissional, afetivo, moral. O encadeamento desses eventos poderia soar episódico, mas a direção costura tudo com uma lógica clara: não há reset emocional. As batalhas se acumulam como camadas de poeira. Você sente o peso do passado em cada decisão nova, e isso dá densidade às escolhas, mesmo quando elas parecem pequenas.

O grande tema aqui é o cansaço — não como fraqueza, mas como estado permanente da vida adulta. O filme fala sobre responsabilidade sem glamour, sobre continuar lutando quando a motivação já não grita, apenas murmura. Há também uma reflexão interessante sobre heroísmo: o longa sugere que insistir pode ser mais heroico do que vencer.

O elenco entende o jogo. Nada de discursos inflamados ou explosões performáticas gratuitas. O destaque vai para a atuação contida do protagonista, que trabalha mais no olhar do que nas palavras. Cada silêncio parece uma batalha não filmada — e isso casa perfeitamente com a proposta do roteiro.

Visualmente, o filme evita grandiosidade óbvia. A câmera prefere planos fechados, espaços comprimidos, luzes pouco generosas. É um mundo que não abre caminho para o personagem; ele precisa empurrá-lo com o corpo. A repetição de enquadramentos ao longo do filme reforça a ideia de ciclo, de retorno constante ao mesmo ponto — um recurso simples, mas eficaz.

Quem espera um desfecho explosivo pode estranhar. O final é deliberadamente anticlimático — e exatamente por isso coerente. Não há vitória absoluta, nem derrota final. O que há é consciência. O personagem entende que a pergunta nunca foi “qual é a última batalha?”, mas “quem eu me torno enquanto luto?”. É um encerramento que não fecha portas; apenas ensina a atravessá-las.

Uma Batalha Após a Outra é um filme que respeita o espectador ao não oferecer respostas fáceis nem consolos artificiais. Espirituoso na sua melancolia e maduro na sua recusa ao espetáculo vazio, ele nos lembra de algo incômodo — e verdadeiro: a vida não é um ato final, é uma sequência. E estar de pé já é uma forma de vitória.