Nesse curta, Svankmajer realiza de um modo bem peculiar a contrução do ser humano como indivíduo. Peculiar eu digo pelo fato de tal construção se dar num sentido literal. Em um minúsculo quarto, surge primeiramente uma mão. Seguida de um olho, seguida de outra mão e de um par de orelhas, seguida de todas as partes necessárias para se formar um corpo. Pouco a pouco, o indivíduo vai se construindo por conta própria, até que quando este está terminado, o quarto que antes tinha um tamanho adequado parece extremamente diminuto perante o tamanho do homem.
O curta possui diversas interpretações possíveis. Sob um aspecto político, o quarto pode representar a situação da Europa Oriental nos anos que antecederam a queda do comunismo, onde o indivíduo em seu estágio inicial não percebe, mas conforme evolui vai se dando conta das limitações impostas pelo ambiente ao seu redor. A cena final seria a perfeita demonstração do indivíduo em seu estado intelectual mais avançado, totalmente oprimido pelo ambiente ao seu redor.
Outra interpretação fica em paralelo com o título. A escuridão inicial seria o não-existir, o estágio inicial do homem que antecede sua estada na terra. A luz é o período de descoberta, no qual o indivíduo evolui assumindo características do ambiente ao seu redor, apurando seu intelecto e consolidando sua personalidade. A escuridão final é o apuro intelectual avançado, que leva o homem a perceber que a luz na realidade não tem nenhum significado e que o melhor estilo de viver era, na realidade, a escuridão pre-existencial.
Alguns mais radicais podem interpretar inclusive o ato final de o homem apagando a luz do quarto como o suicídio como única saída quando se alcança a evolução intelectual no estágio de se perceber a pressão gigantesca imposta pelo ambiente. Certamente essa é a minha interpretação favorita disso.
Svankmajer faz um curta frio, onde as partes agem meio que por inércia, embora hajam alguns toques de personalidade. Elas sempre sabem qual o resultado final que deve ser alcançado e não questionam isso. Mas, de longe, o mais interessante é os detalhes aos quais Svankmajer se apega. Gasta-se um longo tempo nas mãos, enquanto nem ao menos se toca nos órgãos presentes no tronco. Para ele, o pênis é mais digno de atenção que o coração. Genial.
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