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12 Jurados e uma Sentença (2007)

Em 1957, Sidney Lumet, que até então não passava de um ilustre desconhecido, visto que esse era seu primeiro trabalho no cinema (Lumet dirig...

Em 1957, Sidney Lumet, que até então não passava de um ilustre desconhecido, visto que esse era seu primeiro trabalho no cinema (Lumet dirigia episódios de séries e coisas do gênero na televisão), trouxe para a tela grande a história de 12 jurados que se trancam em uma sala para discutir se um jovem acusado de assassinato é culpado ou não, conseguindo três indicações ao Oscar para o filme, entre elas uma para si mesmo, de Melhor Diretor e transformando o filme em um sucesso de público e crítica. Hoje, 12 Homens e uma Sentença é cultuado por muitos e considerado um dos melhores filmes a abordar a temática judicial já feitos. 50 anos após o sucesso do filme de Lumet, o russo Nikita Mikhalkov, um cineasta respeitado em seu país, já ganhador de um Oscar, o de Melhor Filme Estrangeiro por seu O Sol Enganador, leva a história daqueles doze jurados trancados em uma sala de volta para o cinema, mas dessa vez sob o pesado contexto de uma Rússia bebê, que renasce das cinzas da extinta União Soviética tal qual uma fênix. Remake? Não... Seria um erro pensar assim tão fria e superficialmente. "Na verdade, o filme de Lumet, que admiro muito, funciona apenas como ponto de partida" afirma Mikhalkov. Com os elementos do filme de 1957 devidamente removidos, o diretor tem diante de si uma estrutura pré-moldada, mas vazia, pronta para que ele remolde-a ao seu gosto. E isso ele faz com doze personagens perfeitamente trabalhados e independentes. Cada um deles têm sua profissão, seu passado, sua personalidade, e um a um eles têm o momento de se expôr, deixando transparecer o seu lado mais sombrio. Se os jurados são extremamente bem trabalhados, o mesmo não se pode dizer do réu. Tudo o que conhecemos dele são suas lembranças de infância que surgem sobre a forma de flashbacks enquanto o júri pondera sobre seu passado. Réu esse que não pode ter uma origem melhor escolhida. Como se o fato de o garoto vir do Cáucaso não fosse o bastante, ele ainda vem da mais sombria e carregada de preconceito das regiões caucasianas: a Chechênia. E esse garoto checheno, que mal sabe falar russo, ainda por cima é acusado de ter matado o padastro, um ex-militar honrado. E o destino desse rapaz, desde cedo uma infeliz vítima da sociedade, que o julga antecipadamente a partir de estereótipos errôneos que aqueles homens terão de decidir. Se o filme não traz nenhuma inovação em relação à obra de Lumet se tratando de desenvolvimento da trama, o mesmo não se pode dizer dos elementos que são inseridos como meros detalhes, mas que tomam o filme para si. Seja na análise da política externa russa sob a ótica de seus cidadãos comuns, na dificuldade das pessoas que nasceram, cresceram e aprenderam a ver o mundo sob uma ótica socio-econômica e que agora precisam aprender as mais básicas tarefas exigidas pelo mundo capitalista, seja na crítica que Nikita faz a certos figurões do cenário russo, retratando-os de forma um tanto quanto caricata naqueles jurados, acabamos com a certeza de não estarmos diante de um mero remake, mas sim um filme com força própria, que não tenta em nenhum momento sobreviver ás custas de outro. Até mesmo a escolha de trocar a apertada sala do júri por um amplo e espaçoso ginásio (o tribunal está em reforma, de forma que o governo tranferiu-o para uma escola durante as férias, mas as férias acabaram e agora alunos e juízes dividem o mesmo espaço) se mostrou em muito acertada. Com mais espaço, Mikhalkov consegue desenvolver mais o uso da câmera do que Lumet conseguira 50 anos antes, além de poder utilizar uma magnífica fotografia que alterna os tons da obra conforme o dia passa, começando com um tom pastel durante a tarde, passando por cores quentes no anoitecer, cores frias quando a noite vai alta e termina pela manhã, com um aspecto todo acinzentado. Uma vantagem que Lumet não teve, pois acabou por fazer seu filme sem cores. Numa época em que os remakes são vistos com maus olhos, o que se têm aqui é um exemplo de o que deveria ser feito mais rotineiramente com essas refilmagens. Com 50 anos para analisar a obra, acabou sendo possível encontrar todos os defeitos do filme original, mesmo que tais defeitos sejam minúsculos, e consertá-los, além de, claro, aprimorar a questão estética. Uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro mais do que merecida para um filme que eu não hesito em afirmar que é superior àquele em que se baseou.