David Cronenberg é um diretores mais estranhos da atualidade. Até os anos 2000, seus filmes se utilizavam de recursos estéticos extremamente...
David Cronenberg é um diretores mais estranhos da atualidade. Até os anos 2000, seus filmes se utilizavam de recursos estéticos extremamente nojentos para retratar a condição psicológica do ser humano, como visivel nas suas obras-primas A Mosca e Mistérios e Paixões. Nesse A Hora da Zona Morta, baseado no livro Zona Morta de Stephen King, o resultado, infelizmente, é bem inferior à sua média. Em parte talvez isso se deva ao fato de o próprio livro não ser lá essas coisas em se tratando de qualidade, mas sob a regência de Cronenberg, o filme se torna bem menos ruim do que poderia ser. Johnny Smith (Christopher Walken) é um professor que, após sofrer um acidente de carro e passar cinco anos em coma, descobre ter a capacidade de ver o passado, presente ou futuro das pessoas ao segurar suas mãos. Um argumento difícil, mas que é bem trabalhado na primeira metade do filme, que tem uma forte carga psicológica e é claramente um drama. Mas, a partir da segunda metade do filme, a impressão que fica é que Cronenbreg percebeu que o filme deveria ser um suspense, e não um drama, e partir daí abandona toda a estrutura criada na primeira metade para começar a correr atrás de tensão. Claro, isso é apenas impressão, causada simplesmente pelo fato de o livro ser ruim. Quem mais sofre com essa mudança abrupta de sentido é o próprio Johnny, que na primeira metade é um personagem realista, com o objetivo de reiniciar sua vida após cinco anos em coma e se afastar das pessoas para evitar as visões que começaram a tirar sua própria vida. Mas, em certo momento, quando sem explicação lógica ele vai até um comício e tem uma visão do futuro de Greg Stillson (Martin Sheen), ele abandona as características pré-estabelecidas e se torna um sujeito altruísta que busca apenas o bem das pessoas. Embora a direção de Cronenberg seja falha nesse filme, tem alguns bons momentos como no flashback do médico de Johnny passado na Segunda Guerra Mundial. A trilha sonora é extremamente clichê e deixa o filme com cara de suspense barato de sábado à noite. De um modo geral, A Hora da Zona Morta é um filme que tenta com todas as forças ser bom, consegue chegar bem perto disso, mas talvez por sair de um livro ruim e contar com um Cronenberg pouco inspirado, nem a atuação magnífica do sempre bom Christopher Walken consegue evitar que o filme seja algo apenas mediano.