Uma revisitada nesse filme e esta crítica se fazem necessárias nessa época onde aqueles filmes que mais prometem, muitas vezes acabam se tr...
Uma revisitada nesse filme e esta crítica se fazem necessárias nessa época onde aqueles filmes que mais prometem, muitas vezes acabam se transformando em grandes decepções para os cinéfilos e fãs dos envolvidos nesses projetos frustrantes, como é o caso de Austrália, que hoje ninguém mais nem se lembra, e de Nine e Um Olhar do Paraíso, que tendem a seguir esse caminho. Em meados da década de 1980, surgia esse filme que certamente encheu de expectativas todos os amantes da sétima arte, seja pela sinopse que muito prometia, pelo elenco consagrado e até pelo desejo de todos de verem Henry e Jane Fonda finalmente atuando juntos (eles que tanto na vida real como no filme são pai e filha que nunca se deram bem).
Já devo começar dizendo o óbvio: Num Lago Dourado, ao contrário dos filmes citados anteriormente, não decepcionou e se tornou um clássico com o tempo. O filme foi beneficiado pela sua qualidade incontestável, mas também por várias curiosidades a seu respeito: Katharine Hepburn ganhou seu quarto Oscar por esse filme, que também garantiu a primeira estatueta para Henry Fonda, que não pôde recebê-la por já se encontrar muito doente, tendo inclusive gravado o filme quando já estava hospitalizado. O filme também ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em um ano disputado, onde Carruagens de Fogo, Reds, Os Caçadores da Arca Perdida e Atlantic City disputavam o Oscar de Melhor Filme, vencido por Carruagens de Fogo.
A história é simples: Norman Thayer Jr. e sua esposa Ethel viajam para uma antiga casa de campo onde passaram os primeiros anos de casamento. Lá, o casal recebe a visita da filha que não vêem há anos, Chelsea. Ela pede a seus pais para cuidarem do filho do noivo dela enquanto ela passa algumas semanas com ele. No início, Norman não se dá tão bem com o garoto, mas aos poucos um forte laço de amizade aumentará entre eles. Os acontecimentos que se seguem também são simples, mas os diálogos são excelentes e compensam, ajudando o elenco com falas cheias de sarcasmos e outros momentos bem emotivos.
Henry Fonda está ótimo como o irônico e crítico Norman e Katharine Hepburn também está excelente como a forte Ethel, que sempre foi a conciliadora entre Norman e Chelsea, vivida pela excelente Jane Fonda (que atualmente está praticamente aposentada). O filme e as atuações tornam-se ainda mais simpáticos e verossímeis por que todos nós conhecemos um Norman e uma Ethel, aquele típico casal que se relacionam com um sarcasmo saudável aliados a momentos de intenso de amor, e sabem que essa é uma das poucas formas de viver de forma agradável com uma pessoa por tanto tempo.
Os conflitos nunca chegam a ser intensos, pois os personagens parecem estar acostumados a certa indiferença existente entre Norman e Chelsea, mas os poucos momentos mais arrebatadores são emocionantes e inesquecíveis. Como, por exemplo, não lembrar daquela frase dita pela personagem de Katharine Hepburn que foi escolhida como uma das 100 mais marcantes da história do cinema: “Escute aqui, rapaz. Você é meu cavaleiro de armadura brilhante. Não esqueça disso. Você vai voltar para cima daquele cavalo, e eu vou estar logo atrás de você, segurando forte, e lá vamos nós!”, e a resposta do personagem de Henry Fonda dizendo algo irônico como “Eu nunca gostei de cavalos”.
Há de se destacar também a ótima trilha sonora (que de certa forma foi esquecida pela trilha fenomenal de Carruagens de Fogo, filme do mesmo ano) e a excelente fotografia, onde ambas trabalham de forma coesa e correta para explorar aquele local tão bonito.
Enfim, Num Lago Dourado pode não ser uma obra-prima e tem lá seus defeitos, mas é um ótimo filme e uma prova de que ainda podemos esperar outros grandes filmes vindos de grandes estrelas e depois de muita expectativa, sem precisar recorrer apenas a filmes mais antigos para apreciar cinema de qualidade.