O Solteirão (2010)

Tornou-se lugar comum criticar as traduções de títulos estrangeiros feitas em território nacional. Quase sempre, quando se altera o sentido original do título, temos um produto absolutamente bizarro e vergonhoso (salvo raríssimas exceções como O Estranho Mundo de Jack, título bem superior ao original The Nightmare Before Christmas, que caso traduzido literalmente ficaria algo em torno de O Pesadelo da Véspera de Natal), e com o novo filme de Noah Baumbach não é diferente.

O que você imaginaria de imediato ao tomar conhecimento de um filme cujas únicas informações à respeito que você conhece são o título, O Solteirão, e o protagonista, Ben Stiller? A mim, particularmente, viria em mente uma comédia envolvendo um homem de meia-idade, solteiro, que participa de um monte de farras e coisas do tipo em um estilo de filme difícil de descrever, mas fácil de ser imaginado. Bom, isso não é Baumbach. Óbvio. Mas o problema maior de tal título é o fato de ele ser feito apenas para as pessoas que sabem perfeitamente o que estão indo ver. Fãs de comédias protagonizadas por Ben Stiller não gostarão desse filme por não ser o que estavam esperando. Aqueles que poderiam gostar, muito provavelmente não teriam a audácia de pagar 5 reais no seu aluguel ou 15 reais para vê-lo no cinema. Isso é o que nós costumamos chamar de uma campanha de marketing ruim. Stiller é amigo de Owen Wilson que é amigo de Wes Anderson que é amigo de Noah Baumbach. E isso não é muito relevante. Baumbach, que gosta de parcerias, desta vez se junta a Jennifer Jason Leigh no roteiro. Estranho, mas tudo bem. A verdade é que, embora também dirija, Noah Baumbach não é um diretor, mas sim um roteirista. Isso se nota pelo seu estilo instável de filmagem, que conferem ao filme um aspecto quase que caseiro, amador. Mas talvez isso não seja de todo o ruim. Eu, por exemplo, sempre nutri um certo desprezo por diretores que não escrevem os próprios roteiros, como se tais diretores não fossem artistas de fato, ao serem meros artefatos de transposição de textos, de uma linguagem escrita para uma linguagem visual. Meio irracional, mas é a minha visão. Baumbach não se limita apenas a escrever os textos e dirigi-los, ele ainda os usa em conjunto para traçar um panorama das relações familiares. Em A Lula e a Baleia, temos o colapso de um casamento pela ótica dos filhos, em Margot e o Casamento, temos os conflitos entre irmãs, e em O Solteirão (talvez melhor chamá-lo de Greenberg, como no original) temos a crise de meia-idade. Ben Stiller que ja demonstrara ter suas qualidades em Os Excêntricos Tenembauns (embora essas qualidades são normalmente subjugadas mediante os terríveis filmes que o referido ator costuma fazer), mostra novamente seus dotes com o drama. Uma atuação bem mais que apenas correta, mas que por não ser exatamente algo excepcional, pode ser (e será) vista com maus-olhos por muitos. Leia-se em maus-olhos, preconceito. Dentre as atuações, a grande surpresa mesmo é Greta Gerwig, interpretando a empregada que começa um relacionamento com Greenberg (Stiller). Praticamente desconhecida, tendo no currículo apenas filmes de pouquíssima expressão, ela demonstra ser uma atriz consideravelmente boa. Uma agradável surpresa. Já na parte técnica, temos exatamente a mesma fotografia, a mesma montagem e a mesma direção dos trabalhos anteriores de Baumbach. Nenhuma inovação. Se isso é bom ou ruim, realmente não sei. Decepcionante mesmo acabam sendo os personagens. "O" personagem, na verdade, pois como o título já induz, o filme é de Greenberg e todos os outros elementos estão ali apenas para acompanhá-lo. Uma figura interessante, disso não há dúvidas, porém com um problema muito sério. 

Greenberg não nos surpreende em nenhum momento. Todas as suas atitudes são exatamente o que se espera que ele faça, deixando a impressão de que muito antes do necessário, já o conhecemos inteiramente. Greenberg se mostra uma figura absurdamente complexa, mas igualmente superficial. Embora tal fato possa dar uma impressão de que eu acabei tendo uma visão negativa de tal obra, isso não é verdade. A verdade é que, partindo para a subjetividade plena, eu me identifiquei com a personagem muito mais do que deveria. Seu perfil psicológico, suas relações amorosas, seu isolamento, suas neuroses e seu incômodo em relação ao passado remeteram a mim mesmo muito mais do que deveriam. E todos gostam de se ver retratados em um filme. E isso não é a primeira vez que acontece em um Baumbach. Tal identificação também aconteceu em A Lula e a Baleia, que também é bastante superior ao filme que aqui eu resenho (ou pelo menos tento fazê-lo).

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