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O Apartamento (1968)

O tcheco Jan Svankmajer foi (e ainda é) um dos maiores e mais importantes nomes da animação mundial. Seu estilo inconfundível influenciou e muito nesse gênero (ou estilo, como preferem alguns, inclusive eu mesmo) cinematográfico, sobretudo por suas técnicas soberbas no campo da animação em stop-motion. E claro, nesse O Apartamento não poderia deixar de ser diferente. O stop-motion é o mais primordial dos estilos estilos seja de animação, seja de efeitos visuais. Usado desde as origens do cinema, no longínquo Viagem à Lua, onde cumpre os papéis que hoje ficariam a cargo da computação gráfica, até os dias atuais, onde animações como O Estranho Mundo de Jack e Coraline de Henry Selick e A Noiva Cadáver de Tim Burton se utilizam essencialmente dessa técnica. Durante o passar dos anos, temos também outros destaques como King Kong de Merian C. Cooper que se utilizou do stop-motion para animar o boneco de 30 centímetros e fazê-lo aparentar ter lá seus 5 metros de altura. Porém, em O Apartamento, a técnica referida não cumpre nenhum desses papéis citados acima. O stop-motion não é estilo empregado na totalidade do filme como em O Estranho Mundo de Jack ou A Noiva Cadáver nem tampouco é o mero artifício para efeitos como em Viagem à Lua ou King Kong. Na realidade, em O Apartamento, stop-motion e live-action convivem de igual para igual, se assemelhando muito mais com o importante, porém pouco conhecido, O Hotel Elétrico, de 1903. No enredo básico, um homem, interpretado por Ivan Kraus em seu único papel da carreira se vê preso num quarto, onde coisas estranhas bizarras começam a acontecer com os objetos ao seu redor, como se eles conspirassem contra sua pessoa. Durante quase todo o curta, há apenas esse elemento, repetido até a exaustão. Porém, nos minutos finais, eis que da porta antes trancada surge um homem, que entrega àquele homem que tanto sofrera no quarto um machado, antes de se retirar. Munido do machado, o homem investe contra a porta, novamente tracada, até derrubá-la e assim descobrir que atrás dela há somente uma parede. Porém, tal parede leva em si dezenas de assinaturas de pessoas que supostamente haviam passado por aquele quarto antes dele. Conformado, o homem apanha a caneta e junta seu nome aos diversos outros ali escritos. Embora aparentemente seja uma obra adepta do surrealismo/abstracionismo, onde cada um que a ela é apresentado é incitado a criar sua própria interpretação, não tendo a obra um sentido em si, essa é uma interpretação certamente errônea. O fato de ela ter sido produzida durante a Primavera de Praga não pode ser uma mera coincidência. Na realidade, o que Svankmajer certamente quis com esse seu curta foi construir uma metáfora para algo que era bastante utilizado pelos soviéticos contra seus inimigos durante esse período, que se consistia em trancar os prisioneiros políticos (leia-se não-simpatizantes do governo) em quartos totalmente isolados do meio externo, sem sequer iluminação, por longos períodos de tempo, até que, vencidos pelo cansaço, eles concordassem em assinar a confissão de um crime qualquer. E, prestando bem atenção, essa interpretação fará todo o sentido, visto que temos um homem, jogado dentro de um quarto, onde tudo é num primeiro momento normal, até que com o passar do tempo coisas estranhas acontecem. Não aguentando mais aquele ambiente, ele implora para sair, até que um segundo homem lhe abre uma porta, pela qual ele atrevessa e assina, porém ao invés da liberdade, ele encontra uma parede, muito mais fechada que aquela porta pela qual ele pretendia sair. Uma perfeita metáfora da situação política tchecoslovaca. Por colocar tanto conteúdo em uma obra tão curta, ponto para Svankmajer.