Meat Love, além de ser o mais simples dos curtas de Jan Svankmajer, é também um dos mais simples curtas possíveis de se realizar. Em apenas ...
Meat Love, além de ser o mais simples dos curtas de Jan Svankmajer, é também um dos mais simples curtas possíveis de se realizar. Em apenas um minuto somos apresentado a dois pedaços de carne bovina recém cortados que se conhecem, se apaixonam, consomem sua paixão e morrem, fritos como qualquer pedaço de carne. O tcheco que sempre dotou seus trabalhos de uma frieza incômoda, repete mais uma vez a fórmula, conferindo em pouquíssimo tempo um certo carisma às personagens para logo em seguida eliminá-las cruelmente. O que Svankmajer propõe aqui é um trabalho sobre a efemeridade da vida e das relações humanas, em um ambiente onde as criaturas nascem já fadadas à morte, e tudo que acontece nesse meio tempo é tão breve. Os pedaços de carne simbolizariam, na realidade, seres humanos, que na visão do diretor não passam de meros pedaços de carne. Eles se encontram, declaram o amor um pelo outro e, quando menos se espera, já estão "na cama". Svankmajer mostra o ponto em que o amor chegou atravéz de duas metáforas conjuntas: a ínfima duração de uma relação amorosa e a visão dos amantes, na qual um enxerga o outro como um mero pedaço de carne a ser saboreado. E como se isso não bastasse, o curta ainda vem sobrecarregado de simbolismos. As duas fatias de carne cortadas em sequência induz que elas sempre estiveram juntas, mas só quando ocorre a separação que se dão conta da falta que a outra faz. Um pedaço de carne usando uma colher como espelho para admirar sua beleza pode parecer ridículo, mas é justamente tão ridícula quanto a vaidade humana, que leva as pessoas a exaltarem sua inútil beleza. Os fios que transparecem na cena da dança questionam o livre-arbítrio e colocam em xeque a "liberdade" pela qual tanto lutam. Mas a metáfora-mor fica a cargo das mãos humanas. A mesma mão que corta os pedaços de carne, conferindo a eles vida, os espeta no garfo e os leva à frigideira, cobrando de volta essa vida a eles conferida. A essa mão alguns dão o nome de "Deus", outros de "acaso" ou "destino", mas isso não vem ao caso. A única coisa que cabe é a genialidade de Svankmajer de inserir uma tão complexa gama de relações em sentimentos em um mísero minuto.