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Gosto de Sangue (1984)

Uma sociedade degradada moralmente, personagens corruptos e violentos, traição, ângulos e enquadramentos incomuns, locações conhecidas, cenas noturnas, e a típica descrença completa, proveniente do Niilismo. Todos esses aspectos são algumas, das muitas características do gênero noir - derivado do francês, preto. Além de contemplarem essa tendência, tais características retratam o modo de fazer cinema dos Irmãos Coen, na maioria dos seus filmes. Joel e Ethan, atualmente reconhecidos como dois, dos melhores diretores contemporâneos, começaram no cinema, na década de 80. Enquanto Joel se formara na Universidade de Nova York, Ethan optara pela filosofia, na universidade de Princeton.

Em 1981, depois de se formar em Nova York, Joel conseguiu um cargo de assistente-editor, no filme "A Morte do Demônio" (Evil Dead, 1981), de Sam Raimi, onde iniciou a sua grandiosa carreira, no mundo da sétima arte. Três anos depois, os irmãos lançavam o seu primeiro filme, trabalhando juntos. "Gosto de Sangue", um belíssimo trabalho que acabou satisfazendo a corrente neo-noir, tendência que recicla as principais características do gênero citado no primeiro parágrafo, já mostrava as principais influências dos diretores, que marcariam suas futuras produções. No Texas, uma mulher e seu amante mantêm um relacionamento amoroso. No entanto, o marido acaba descobrindo a traição, e resolve pagar um detetive, para matá-los. O crime acaba não saindo como planejado, e as portas ficam abertas para um desentendimento sem fim. Um tema muito recorrente, dentro desse gênero, é o triângulo amoroso. Essa temática abre um leque de possibilidades, para o desenvolvimento da narrativa. Certas produções optam por uma abordagem mais suave, enquanto outras, no caso de "Gosto de Sangue", caminham por um rumo oposto. "Gosto de Sangue" funciona muito bem como um noir, além de ter bons traços dramáticos. O roteiro, também escrito pelos irmãos, é surpreendentemente eficiente. Logo no início, o espectador ouve um desabafo extremamente pessimista, criticando a postura do Homem. Basicamente, é o interesse que move os laços entre as pessoas, por isso, quando surge algum problema, é cada um por si. Os diálogos representam mais um atrativo de suas obras. Quando não carregam o humor negro, também presente em "Gosto de Sangue", costumam fazer críticas. Neste primeiro trabalho, os irmãos Coen fazem um estudo preciso sobre o que faz o Homem tomar certas atitudes estúpidas. O dinheiro? A insatisfação? O medo? A direção, a respeito do desenvolvimento da trama, é extremamente competente, por situar o espectador em cada cena, fazendo-o entender todo o desentendimento, que acaba gerando uma série de perspectivas diferentes, por parte dos diversos personagens. A construção dessa teia é muito bem feita. Sobre o desfecho que, futuramente, se tornaria um dos momentos mais aguardados por parte do público, devido a criatividade dos diretores em solucionar, ou não, os problemas do filme, ressalto o diálogo irônico, seguido pela faixa musical. São poucos os profissionais que conseguem criar um efeito tão incrível, com tão pouco.

A violência gráfica do filme é mínima. Os Coen abrem mão de impressionar o espectador por esse aspecto, compensando no belo trabalho de câmera. Os diretores fazem uso, por vezes, de ângulos criativos, que realçam o poder da cena. A fotografia, comandada por Barry Sonnenfeld, que também trabalharia com Joel e Ethan, em "Arizona Nunca Mais" (Raising Arizona, 1987), e "Ajuste Final" (Miller's Crossing, 1990), antes do incrível Roger Deakins assumir o cargo, ganha destaque nas tomadas noturnas. Devido à grande influência da tendência supracitada, "Gosto de Sangue" tem seus melhores momentos, durante a noite, onde o suspense combina com a estética, aumentando o efeito das perseguições, e do sentimento de medo, e paranoia, dos próprios personagens. "Gosto de Sangue" dá início à trajetória de dois grandes diretores, que adotaram um estilo extremamente singular. A tentativa de sempre driblar o convencional, buscando alternativas criativas, fez com que os mesmos ganhassem respeito, no mundo da sétima arte. Um trabalho preciso, surpreendente, e, acima de tudo, puramente cinéfilo. Uma tendência resgatada pelos próprios amantes.