O irmão mais novo de Baby Jane. Assim podemos considerar esse Com a Maldade na Alma, que conta com diversas semelhanças com o filme de 1962,...
O irmão mais novo de Baby Jane. Assim podemos considerar esse Com a Maldade na Alma, que conta com diversas semelhanças com o filme de 1962, seja na direção, em sua protagonista (Bette Davis), em seus roteiristas, em seu estilo semi-noir, em seu tema... Mas mesmo com todas as suas qualidades, ainda se trata de um filme menor. Aqui a história se inicia com o assassinato do noivo de Charlotte (Bette Davis) durante uma festa, cujo corpo é encontrado pela mesma desprovido de sua mão direita e de sua cabeça, que nunca foram encontrados. Quem cometera o assassinato fica como uma incógnita que a polícia não consegue explicar, assim como o paradeiro da mão e da cabeça, que nunca foram encontradas. Vários anos depois, Charlotte continua tracada em sua casa, guardando o "segredo" criado por ela mesma de que seu pai teria sido o assassino. Porém, a construção de uma ponte e de uma estrada levam o estado a desapropriar sua mansão, rompendo assim a frágil estabilidade existente. Para salvar sua casa, Charlotte pede ajuda a um antigo amigo da família, Dr. Drew (Joseph Cotten) e para sua única parente viva, sua prima Mirian (Olivia de Havilland). Com as três figuras a postos, inicia-se o jogo de intrigas que dita o ritmo do filme. Essa obra de Aldrich se baseia simplesmente em aparências, assim como seu O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Nas duas obras, as coisas não são exatamente o que aparentam ser. Aldrich guia o espectador em um sentido, para num golpe ligeiro, inverter totalmente o sentido a que esse se dirigia, repetindo tal movimento por tantas vezes que deixa o público com uma, por mais estranho que pareça, agradável sensação de estar completamente perdido. Não se sabe o que esperar de nada e ninguém nesse verdadeiro baile de máscaras, onde algumas caem para ser prontamente substituídas por outras. O elenco mais uma vez está impecável, coisa já habitual nos trabalhos do diretor. A Charlotte de Bette Davis é praticamente uma versão atenuada da própria Baby Jane, visto que essa é também vingativa, impulsiva e infantil. Joseph Cotten e Olivia de Havilland também se mostram bastante íntimos com seus personagens, mas a grande atuação do filme é certamente a de Agnes Mooreheard como a empregada Velma, que com seus trejeitos espalhafatosos e seu carinho por sua patroa, conseguiu uma indicação ao Oscar como coadjuvante. Detalhe também para a ex-musa Mary Astor, que tem aqui seu último papel no cinema como Jewel Mayhew, a inimiga de Charlotte, que tem uma curtíssima participação em apenas duas cenas. Com um começo colossal em um magnífico trabalho de mise-en-scène, o trabalho se inicia grande, mas perde forças ao se aproximar cada vez mais e mais de Baby Jane, mas sem ter a crítica direta à hipocrisia hollywoodiana que tinha aquele. Com a Maldade na Alma é um Aldrich grande, mas que não consegue deixar claro para o que veio.