Contragolpe (2007)

Interessante suspense francês que flerta com uma sutil crítica as mídias que exploram a violência e se valem dela para sobreviver. O grande trunfo do filme é justamente se valer dessa premissa, mas a expande de tal forma que o tema se torna mais ambíguo e universal. Acaba-se por esse motivo tocante em temas que persistem colados a humanidade, o debate entre Civilização e barbárie no tocante ao desejo de vingança (Pena de Talião) e também (esse de modo menos óbvio) sobre a permanência de se julgar sem provas concretas sobre a autoria do crime. E acaba de certa forma também flertando com outro filme que explorou o tema do uso da máquina judicial para interesses próprios (Suplício de uma alma de Lang).

Frank Mancuso ao que consta foi durante anos consultor para roteiros sobre filmes que versassem sobre o aparelho policial na França. Aqui ele se lança atrás das câmeras e se arvora em um interessante roteiro que abre um leque precioso sobre várias questões. Se nesse aspecto o acerto é visível, claro também fica que ele não possui um domínio completo do que é fazer um filme. A imagem nos remete a uma produção televisiva, ainda que as locações não sejam de todo desinteressantes. Faltou, no entanto um melhor acuro no tocante a fotografia e ao mise en scène. Tal pode ser visto como uma escolha da direção, mas o aproxima demais dos próprios programas jornalísticos que se quis criticar. No mundo de hoje vemos a mídias se comprazerem com a dor dos parentes frente o assassinato banal de um ente querido, a exploração da sede de justiça que deságua no desejo de vingança. Permanece presente para contrapor esse lado sombrio, uma sutil visão do sistema judiciário e os seus limites; já que a necessidade de se encontrar quem pague pelos crimes, a impossibilidade de possuirmos um infalível sistema judiciário e uma possível (como já disse) exploração dessa infalibilidade por falsos inocentes (no caso aqui o policial que busca justiça pelas próprias mãos).

O não rebuscamento da imagem traz um sério problema a meu ver. O roteiro nos mergulha em incertezas que as imagens sempre claras desmentem. O que o roteiro destila sutilmente, a imagem nos entrega claramente. Em se tratando de um suspense isso é ruim, pois não nos obriga a questionamentos, ou ao menos a nos impregnarmos por eles. Tudo acaba sendo por demais linear, ainda que a verdade do que nos é exposto nos cale fundo, isso parece enfraquecer o resultado final.

A mise em scène tem lá seus grandes momentos, mas é desigual. Se no início somos mergulhados em um bairro industrial, ladeado por um rio numa manhã qualquer, sem nada que a destaque das demais. Esse aparente paraíso será profanado, e quando isso ocorrer, sentiremos que uma atmosfera pesada profanou de vez aquele lugar. E um pai desesperado não encontrará mais paz, o mundo que cria protegê-lo tornar-se-á cada vez mais as muralhas que o querem esmagar. Quando o corpo é encontrado na floresta e posteriormente um homem é detido e a ele creditado toda a culpa o alivio para um respiro parece existir. Ainda que as provas sejam fortes, esse pai enfurecido pelo ódio (excelente desempenho de Jean Dujardin), que se transformou em bicho prestes a destroçar qualquer um, nos desconcerta. Ele nos leva a crer que acredita na inocência do detido e tudo faz para libertá-lo. E a partir dai não sabemos para onde a história caminhará...

O diretor se perde quando o quadro transforma vários personagens em simples espectadores, que tais como nós, também ficam estupefatos com os rumos tomados. Todos eles infelizmente não desenvolvidos, rasos, que nada contribuem para engrandecer a obra. Apesar disso o filme é uma experiência válida, pelos temas abordados e pela presença de Dujardin . A se ver. No entanto o que um diretor mais qualificado não teria realizado com tal material?


Escrito por Conde Fouá Anderaos

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