Luc Besson é um cineasta de origem francesa. Um europeu. Nada melhor do que remontar as origens em dizendo uma verdade para se construir uma mentira. Besson desde quando despontou nos idos da década de 90 fez com que a cada lançamento de uma obra sua, se criasse um clima de pequeno evento. O que iria aprontar esse diretor que buscava trilhar uma caminho inusitado: Criar blockbusters que caíssem no gosto dos que apreciam o que é produzido pela indústria americana, sem perder a sua identidade europeia (?). Logicamente que isso já torcia o nariz de grande parte da crítica especializada, mas trazia a seu favor a indulgência do público. E criou-se assim uma aura de artista incompreendido, entre os jovens cinéfilos.
Aqui temos um exemplo do que melhor pode-se esperar de Besson. Um roteiro (partindo da premissa proposta pelo mesmo) produzido por uma parte infinitesimal de seu cérebro. Ou seja, crasso de erros, dotados de uma velocidade alucinante que os encobre e um resultado por incrível que pareça surpreendente. Diverte e ao final da projeção saímos satisfeitos. O que por si só é um assombro. Em se tratando de Besson é claro.
A crítica que busca destruir o filme parte de uma premissa que nada mais é que um sofisma. O autor estruturou seu filme sobre uma lenda urbana. Aquela que diz que nós utilizamos 10% de nossa capacidade cerebral. Algo que o mundo científico jamais ratificou. Aqui isso pouco importa. Não se quis realizar um documentário, nem um falso documentário. A obra flerta com a ficção científica. E se nós levássemos essa crítica ao filme a sério seria preciso mencionar o maior absurdo sobre a qual se alicerça o filme. Somos o cérebro ou aquilo que manuseia o cérebro? No filme o que vemos é apenas a feitura de reações químicas fortuitas. Seria a matéria que comandaria tudo. Talvez em realidade não usamos a capacidade total possibilitada pelo cérebro, justamente por não o sabermos utilizá-lo. Seriamos como um habitante do início do século passado, diante pela primeira vez de um computador portátil com o Windows 7 ou 8. Ou seja, temos o equipamento, mas não fazemos uso por total impossibilidade nossa. Não do cérebro. Einstein usava só 10% do cérebro ou fazia uso de mais?
Mas não nos prendamos nesse detalhe e pensemos isso como uma metáfora. Afinal essa porcentagem nada mais seria que isso. O mito serve apenas para se desenvolver uma idéia: De se criar um divertimento, um filme de entretenimento, com algumas passagens interessantes.
O cérebro é visto no filme como um músculo que deveria ser melhor estimulado (nisso eu concordo). No entanto isso se dá de forma a crermos que isso pode ocorrer de forma fortuita e o indivíduo não teria parte ativa nisso (reações químicas – nisso discordo). O filme se arvora num pressuposto filosófico errôneo defendido por muitos e tomado como verdade. Temos de ver a obra como nos oferecendo uma realidade alternativa (ficção, não verdade). No filme Lucy nos informa que as células formam uma rede de comunicação que a seu turno forma a matéria. E que deveríamos tomar como a única unidade real o tempo, já que ele prova a existência do que vemos (Se algo ocorrer numa velocidade tamanha, não perceberíamos nada, portanto isso não poderia existir, pois não se materializaria diante de nossos aparelhos preceptores – os sentidos).
No filme, Lucy explica que as células formam uma rede de comunicação que - por sua vez - como matéria. Ele também quebrou nossa codificação de afirmar real de que os seres humanos têm projetado tudo na unidade, a 1, então a única unidade real deve ser de tempo, o que prova a existência da matéria (mais carro passa rápido, vê-se menos). No entanto devido a inusitada experiência esse limite para ela não existiria. Ela à medida que se transforma não está mais presa no espaço-tempo. Então ela própria se apercebe de que o tempo em si é uma ilusão. Ela passa a ter consciência da existência de que estamos mergulhados em várias ondas. Seus sentidos são ampliados (ou destruídos?).
O que vemos na tela no entanto é uma mistura de Thriller, Ficção científica e filme de ação. De uma forma tão vertiginosa e fazendo uso de efeitos especiais não exagerados. E Besson coloca em seu time um elenco internacional de muito agrado a aqueles que prezam a sétima arte, todos em papéis principais: Min-sik Choi o ator predileto de Chan-Wook Park, Morgan Freeman e Scarlett Johansson. Todos funcionais e convincentes dentro dessa viagem alucinante. Apesar de alguns problemas sérios de roteiro, temos grandes achados: um exemplo é o encontro da heroína com Lucy, a primata, relembrando a todos nós a longa caminhada da raça humana até os tempos de hoje. Momento terno e feliz de uma obra que diverte e nos remete a questionar nosso lugar dentro do Universo. Somos o cérebro ou fazemos uso dele?. Um acidente químico, ou algo que a ciência oficial teima em não admitir?
Seja qual for a tua resposta, tenho certeza de que apreciará esse filme vertiginoso que não ofende a nossa capacidade de pensar. Quer apenas nos divertir.
Escrito por Conde Fouá Anderaos