A Hora do Rango (2005)

Curiosa produção que passou despercebida por aqui. Dirigida e escrita por Rob McKittrick que soube construir um mise em scène que surpreende e capta a atenção. Era inicialmente um projeto de parcos US$ 30.000,00 (o diretor/roteirista era um garçom que sonhava transpor o mundo que conhecia para as telas). Caiu nas graças de um produtor que resolveu encorpar o projeto com verbas e um elenco que se não causa suspiros de emoção, ao menos é conhecido: Justin Long (“Olhos famintos”, “Alvin e os esquilos”), Anna Farris (“Encontros e Desencontros”, “O Segredo de Brokeback Mountain”), Luz Gusmán (Escola de Idiotas), Ryan Reynolds (“X-Men Origens: Wolverine”), entre outros.

Não existe uma história propriamente dita, em suma: Dean após saber pela mãe que um antigo colega de escola se deu bem na vida, entra em crise e planeja deixar de ser garçom. Isso serve de pretexto para assistirmos a uma série de gags e situações que beiram o humor negro. È um filme para jovens, mas não deve agradar a todos, já que passeia sem pudor pelo licencioso e escatológico. Vemos no filme metralhadas de diálogos que beiram a pura besteira se retirados do contexto de um restaurante e um frescor e uma espontaneidade que “American Pie” jamais conseguiu resvalar ao menos. É um mergulho nas entranhas de um restaurante americano, onde os personagens se dedicam ao exibicionismo viril, o despertar de desejos inaceitáveis (sobre uma adolescente de 17 anos), e o descarregar suas raivas e frustrações sobre os pratos dos clientes difíceis de lidar.

As figuras que desfilam na tela espantam, mas são críveis – prova de que o diretor conhecia o que retratava: uma garçonete neurastênica sempre a beira de um colapso; um cozinheiro negro apelidado de "o reverendo" (Chi McBride em ótima performance) sempre pronto a compreender o caos em que vive, dando de conselhos descolados para todos (achei-o o destaque da história – já que ele serve de contraponto); uma barman lésbica que consola e canta as mulheres desiludidas; um gerente que joga sobre os empregados a sua frustração, julgando-se como tendo autoridade; um garçom inseguro que não consegue nem controlar sua urina; um outro que se julga o máximo em termos de sexo, mas que é criticado pelas que já usufruíram de seus braços, ... Isso é apenas uma pequena amostra. O quadro de personalidades é longo e sempre muito bem construído.

Concordo com a colocação do Pedro Soares em seu comentário: “Se no final, deixar os preconceitos de lado, vai acabar curtindo o filme.” O filme exige essa premissa devido ao tom chulo de algumas situações e diálogos (que fazem parte do ambiente).

Digo, porém, que você jamais adentrará a um restaurante como dantes. Se o fizer, redobrará a doçura na voz ao se dirigir ao garçom.

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