“A história de Georgina Spencer, Duquesa de Devonshire e ancestral da princesa Diana. No século XVIII, esta aristocrata viveu uma vida rica e extravagante...Casou-se aos 17 anos com o rico e poderoso Duque de Devonshire, Georgina seduzia rapidamente a alta sociedade com sua beleza deslumbrante, seu espírito e sua sede de viver. Entretanto, atrás desta imagem extravagante esconde-se uma mulher ávida por ser amada, escanteada por seu esposo – único homem da realeza insensível a seu charme, que a descarta e prefere sua melhor amiga – Elizabeth Foster, e que a obriga a aceitar um amor a três dentro de seu lar. Infeliz e insatisfeita, Georgina, conduz uma vida mundana agitada. Sua elegância, suas extravagâncias e seu gosto pelo jogo causam sensação, sobretudo quando ela se lança na vida política em prol do Partido Liberal. Transformada em musa dos Whigs devido sua elegância e carisma, festejada pelos príncipes e ministros, ela apoia o jovem deputado Charles Grey pelo qual cai amorosa.”
O amor romântico que hoje vivemos no Ocidente sobremaneira foi uma conquista de séculos. O presente filme se passa no século XVIII época essa em que essa ideia ainda se firmava na Sociedade. Num tempo mais remoto, não era o amor que unia as pessoas, mas sim os acordos familiares. Acordos esses que vicejam ainda de forma preponderante na alta sociedade. É sabido que durante a Idade Média na Europa, há fortes indícios de que a tradição da primeira noite seja real. Consistia que o suserano teria o direito de passar a primeira noite com a noiva de seu vassalo. Muitos historiadores creem que a ideia do amor romântico surgiu com o aumento populacional urbano. Distante de seus familiares, as pessoas começaram a buscar alguém que completasse esse vazio.
O filme se inicia com o casamento da jovem Georgina com o Duque. Criada com o único fim de um dia ser esposa, Georgina se crê amada pelo Duque. Posteriormente percebe que é apenas uma mercadoria que deve satisfazer o único objetivo pelo qual foi desposada: gerar um filho varão que perpetue o nome dos Devonshire.
O filme se arvora no que chamaria de Literatura Nacional, patrimônio cultural inglês, caracterizado por uma estética de museu, uma narração nostálgica enriquecida por temas contemporâneos (conquista amorosa, emancipação feminina, conflito de classes sociais, etc). Filmado nos locais onde a Duquesa viveu, o filme se ressente de um convencionalismo (falta de ousadia) e se transforma num melodrama (calvário) de uma mulher e sua reeducação. Ela nessa viagem descobre sua feminilidade e o potencial que terá de permanecer sepultado.
A partir daí o que se vê é uma visão atual sobre um fato passado. Reescreve-se a história, deixando-se vir a tela claras visões atuais sobre costumes passados. Assim o Duque (um fleumático Fiennes) surge como um homem que não teve coragem de mudar, que inveja a capacidade de sonhar de Grey e sua esposa. Como cinema, como fantasia, isso enriquece nossos sonhos. Enquanto arte tudo é válido. Afinal é gratificante essa visão crítica sobre si próprio que o Duque nos mostra. Ainda que não seja real. Outro fato é mostrar Grey e seus partidários como liberais, sem necessariamente mostrar em que consistia isso. Afinal se tal fosse desvendado, provavelmente traria um choque diante do público moderno. É preferível que tal fique vago, afinal podemos assim preencher esse vazio com o que queremos.
Quanto a parte cênica o filme convence. Figurinos e fotografia precisos. Mostra aquela imagem que o Cinema já perpetuou como sendo a real: Perucas, muito pó, lustres belíssimos, etc. Os atores seguem o roteiro pré-estabelecido pelos filmes de época. Nós acreditamos naquele luxo e beleza, naqueles rostos e vestuários bem conservados, limpeza absoluta, numa época em que os padrões de higiene e o avanço tecnológico mostram o oposto.
Apesar de tudo o resultado é agradável. Afinal não se trata de um documentário, mas sim de uma ficção sobre um fato real. Ficção essa que segue o padrão estabelecido, sem desapontar e nem ousar. Para se ver sem esperar um grande filme. Apenas o trivial bem realizado.
Escrito por Conde Fouá Anderaos