O novo longa de Ferrara, apesar de algumas diferenças, no fundo é o velho Ferrara que já conhecíamos nos anos 80/90. Welcome to New York dif...
O novo longa de Ferrara, apesar de algumas diferenças, no fundo é o velho Ferrara que já conhecíamos nos anos 80/90. Welcome to New York diferente do que se pode pensar, é sobre o cinema calcado na obsessão doentia, o sexo não como prazer, mas como maldição. Assim como O Rei de Nova York (King of New York, 1990), Ferrara parece voltar as suas origens gângsteres singulares, não como um mundo que o nosso imaginário já criou, como é no cinema de Scorsese, mas sim da fragilidade dos homens de terno.
A narrativa de Welcome to New York é criada por olhares. Os diálogos que conduzem parecem curtos e na maioria das vezes insignificantes, a verdadeira criação de relação entre os personagens de Ferrara, é pura e primitiva, e se responde quando não no sexo, no cinismo, na indiferença. O mundo contemporâneo aqui é o mesmo que representado em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013), só que por olhares completamente distintos, mas que criaram visões interessantes para serem comparadas. Se Scorsese prefere aproveitar das brincadeiras e do mundo da luxúria de Jordan Belfort em uma linguagem mais “acessível”, Ferrara e seu mundo sujo dialoga de maneira diferente, mais imagética e poderosamente realista e pessimista.
Deveraux (Gérard Depardieu) assim como Frank White (Christopher Walken em King of New York) não é um homem podre, ainda que tudo leve a pensar que sim. Há neles uma fagulha de esperança. Deveraux, porém é um espelho mais maligno e menos esperançoso (e bondoso) que White, vazio, triste e viciado em sexo. A Nova York e o mundo contemporâneo de Ferrara, não é mais o mesmo daquele caótico que se encontrava na década de 80 e 90, o caos mudou, é silencioso, quieto, incomum, onde as verdadeiras armas, metralhadoras são as câmeras fotográficas que famintas, pegam cada instante do andar de Deveraux.
Welcome to New York, não parece ser mais o lar de Ferrara, agora é um lugar mais estranho, mais ríspido, de violência psicológica. O homem de terno captado por Abel não é diferente de tantos outros. O mundo não parece mais girar através de metralhadoras, fuzis, ação no seu sentido mais puro. O que movimenta o mundo nessa “nova” Nova York de Ferrara são os números, a política, a tal da democracia. O homem de terno de Ferrara é ao mesmo tempo que mais alguém perdido nas ilusões do mundo atual, é também um retrato de um cinema que habitou dois tempos; se antes os personagens de Ferrara eram “reis”, agora são inadequados, antiquados, não pertencem aquele mundo cínico, o vício claro, continua ali, mas o pessimismo parece ser mais forte. Welcome to New York é o filme de ação dos tempos atuais, não há mais Walken, Snipes, Stallone ou Norris, mas sim um Depardieu obeso e obsessivo que esta mais em confronto contra si mesmo do que com os outros.