Fuga do Passado (1947)

Amor, traição, violência e passado. Fuga do Passado (Out of The Past, 1947) é um filme sobre mais do que um tempo que volta a inferir sob o presente, mas também de sua força sobre o mesmo, de sua oportuna sobrevinda ao tempo atual para firmar, condenar o destino de suas personagens.

Como em um terror, Tourneur implementa aos poucos uma narrativa frenética sobre o filme, onde seu noir adquire uma estética alucinante de acontecimentos, atropelados sob os outros, de reviravoltas. Iniciando-se na pequena rua onde tudo começa e tudo termina, todo o cenário está em sintonia com os sentimentos que devem transmitir. Mais do que um mundo cínico, Tourneur da uma importância ao olhar de suas personagens, onde todos parecem suspeitos e integram aquele lugar sombrio que acabamos de conhecer e já sabemos que não somos bem-vindos. Desse modo, a narrativa contada primeiramente por Jeff (Robert Mitchum) adquire um tom sombrio, para transformar praticamente todas as cenas do filme em um portentoso clímax, onde Tourneur mais uma vez deixa o espectador de maneira subjetiva, intrusa de todas as ações.

A medida da evolução do próprio enredo, Fuga do Passado (Out of The Past, 1947) se mostra um noir mais do que singular, um autêntico Tourneur. Elegantemente brutal, de conceitos semelhantes a Sangue de Pantera (Cat People, 1942), vai aos poucos se tornando em um filme melancólico e pessimista da própria situação e destino de todas as personagens, parecido com o que Alfred Hitchcock realizou em A Sombra de uma Dúvida (A Shadow of Doubt, 1943), onde a felicidade para se não poder existir. Jeff, o apaixonado, fracassado, se encanta pelo mesmo charme que a besta tanto encantou os personagens de Jacques Tourneur em seus outros filmes, por isso o grande mal do filme não é o seu passado que aparenta o condenar, ele vem apenas como uma prova para alegar seu destino – parecido com o que Cronenberg realizou em Marcas da Violência (A History of Violence, 2005) -, mas sim o seu encanto pela femme-fatale, pela fera, que jamais pode ser correspondido.

As lentes de Tourneur parecem estar preparadas para todo os momentos se aproveitar de cenas para criar seu suspense. Porém diferentemente de qualquer filme seu, apesar da presença do olhar ter sido sempre significativa para a construção de seus personagens, aqui ela aparece, propicia com que haja uma aproximação do espectador com as características psicológicas de cada um. Pois é impossível não reparar, na melancolia e falta de rumo no rosto de Robert Mitchum, a cretinice em Whit (Kirk Douglas) e a manipulação de Kathie (Jane Greer). Além de um retrato fiel ao homem no mundo noir, não existe no cinema tal aproximação desse estilo com a frenética maneira com que tudo é manejado aqui. De longas sequências, dessa vez Tourneur utiliza a trilha-sonora ao seu lado para criar sua atmosfera e da um destino final para seus personagens em forma de redenção, onde todos pagam de certo modo pelos seus maiores crimes, o crime de terem se apaixonados uns pelos outros.

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