(SOMOS) TÃO JOVENS, NÃO TÃO FÚTEIS
Protestos Caboclos em Abortos Arcaicos |
Os dias new wave brasuka que vestiam ombreiras, calça de brim e polainas em final de
ditadura rumo às Diretas Já, deram lugar a
geração W(i-Fi). As décadas de 80 e
90 nos deixaram, hoje os meios de se obter a informação são brutalmente
velozes mas que legado restou-nos?
Estive num tempo em que a série Malhação era febre nacional, na trama, o ponto de encontro dos protagonistas chamava-se Guacamole. Vira ampulheta que tem novo nome, adivinha qual? Se respondeu Gigabyte! das duas uma, ou você é um velho oráculo ou é tão jovem quanto o google que digita. Desta forma, eis que chegamos a malfadada cultura de almanaque! Nos tempos em que a revista Bizz era fonte de cultura para alguns, pra outros, claramente algo mais superficial. Você talvez deva se perguntar, mas e o que isto tem haver com o filme? Resposta, TUDO. Prometendo recriar os dilemas e agruras juvenis de um dos maiores poetas da música brasileira, surge a ambiciosa premissa de Somos Tão Jovens.
Juntamente com a família
Manfredini, somos transportados ao ano de 1973, quando decidem trocar o Rio de Janeiro
pela cidade de Brasília. Logo no princípio, o enredo demora a engrenar,
passando quase que invariavelmente ao redor de um único personagem, Renato. O
texto é frágil, óbvio, e ainda que contando muito do que já era sabido, não
há inteligência argumentativa nas decisões do roteiro. O que vi foi uma
reconstituição truquera que sutilmente esconde-se entre o ácido e poético
contido nas letras de Renato, que convenhamos, é uma tremenda covardia. É fato
que surgirão aqueles que (como eu ‘robô’) foram ou serão tomados por algum tipo de
emoção, entretanto, muito mais pela memória afetiva (e densidade influenciada
no som dos acordes da Legião Urbana), do que por força do argumento textual de
Marcos Bernstein, o roteirista.
Estive num tempo em que a série Malhação era febre nacional, na trama, o ponto de encontro dos protagonistas chamava-se Guacamole. Vira ampulheta que tem novo nome, adivinha qual? Se respondeu Gigabyte! das duas uma, ou você é um velho oráculo ou é tão jovem quanto o google que digita. Desta forma, eis que chegamos a malfadada cultura de almanaque! Nos tempos em que a revista Bizz era fonte de cultura para alguns, pra outros, claramente algo mais superficial. Você talvez deva se perguntar, mas e o que isto tem haver com o filme? Resposta, TUDO. Prometendo recriar os dilemas e agruras juvenis de um dos maiores poetas da música brasileira, surge a ambiciosa premissa de Somos Tão Jovens.
É diante de uma
contemporaneidade tamanha, que extrapolam-se riscos causando uma tremenda confusão: o da
velocidade com a falta de conteúdo. O longa dança através de um ar
novelescamente Record, tudo aos olhos
do diretor Antônio Carlos da Fontoura. Este que já havia acertado no
documentário musical Loki, Arnaldo
Baptista, entretanto aqui esbarra bisonhamente por cima de um perigoso muro
onde escolhe não dramatizar ou polemizar, não demostrando assim, nem uma coisa
nem outra. Nem os maiores dos iconoclastas imaginariam que a força impressa
pela “Geração Coca-Cola” de Renato conseguiria deter tanto poder. Ser Renato
não é tarefa fácil, Thiago Mendonça (2
Filhos de Francisco, 2005) foi Renato encarnado, gostei dele admito. Laila
Zaid (Aninha, melhor amiga), foi bem, sobrou alguma química entre eles, mas repare
no amigo punk de Renato, do caricato ao lúdico, onde acharam esse cara? E quem
em sã conciência acharia que esse menino de sotaque fabricado foi um dia
um ‘gringo’ de verdade!?
IMPRESSÕES
Não somo feitos de lata nem de sangue de barata, mesmo assim é vergonhoso analisar como este diretor subestima seu público. Perceba
que tudo é pra Renato e por Renato. Não se pode justificar um longa que
necessita de um personagem apenas em sua auto-sustentação, ainda que seja
Renato Russo, isso não é desculpa. Interessante foi ver a
dita epifisiólise (rara doença óssea), logo no principio do filme, obstante,
não se cumpriu o prometido. Fui ao cinema imaginando ver o lado jovem, a lá begins de Renato Russo, o início e o
surgimento do poeta-gênio de minha época. Mais do que isso, busquei na trama o
remeter da história de amor e carinho, das canções que até hoje me tocam. Muito
embora sutilmente vacinado, de peito aberto e ‘desarmadurado’ me atirei.
Esperei algo de maior densidade - fui vão, o mais próximo foi na descrição da
escolha do pseudônimo ‘Renato Russo’ (inspirado nos filósofos Jean-Jacques Rousseau e Bertrand Russel, além do cineasta e
roteirista inglês Ken Russell).
Cinebiografias nunca são
fáceis é bem verdade, sofreu o roteirista com a pressão da família de Renato,
normal - mesmo assim o diretor foi medroso. Resultado, o texto foi covarde,
fazendo sofrer o espec(ta)dor na forma como tratou o longa. As canções, a
homossexualidade, o Capital Inicial, o Paralamas (entre muitos), e finalmente o
testemunho do nascimento da Legião Urbana através do extinto Aborto Elétrico -
tudo rodeado de uma ótica banal e superficialmente boba.
As questões alegóricas também
me incomodaram excessivamente. Não se pode literalizar exageradamente os acontecimentos de uma história, neste
caso ‘letras de música’, constrange(a)DOR por momentos – vergonha alheia escutar
personagens dizendo: “Festa estranha, gente esquisita”, nossa que medo! Com
atuação rasas, beirando o total amadorismo com pipoca, Somos Tão Jovens foi uma versão da Legião na Malhação, ou pior, na Rede
Record. Salvou o menino que fez o papel de Renato. Na verdade talvez até
deixe-nos uma pergunta, um grande ator ou um belo imitador? Foi hilário ver o
rapaz (nem sei quem é Edu Moraes), se fazendo passar por Herbert Vianna.
Ridículo, exageradamente caricato, mais parecia um adolescente prensando um
baseado no arrastar da fala.
O que vi na tela foi uma
versão barateada de Malhação, além da
superficialidade enlatada, rasa por demais. Não se pode eliminar a profundidade
das coisas, ainda mais em se tratando do mito que foi Renato Russo, seria quase
como se construíssemos um castelo sem alicerce. Pegue a falta de experiência,
(atrelada a) um fraco embasamento, soma-se isso ao um impressionante número de
inconsistências, mais cedo ou mais tarde tudo desaba, foi o que aconteceu.
Perdão a trocadilhagem, mas desta vez a coisa ficou russa pra
Renato, ainda mais para uma legião ávida por conteúdo. No meu caso, eu prefiro
o velho ao vazio do banal, e de fato, foi um aborto - arcaico, sem cor ou vida e
definitivamente sem eletricidade alguma. Se Renato disse que “não temos tempos
a perder”, bom... neste dia eu perdi!
FAROESTE CROQUETE
Provavelmente uma das tramas mais famosas da história da
música brasileira, nascida num momento onde os fãs reclamavam que Renato Russo
não compunha sobre as raízes do povo brasileiro. Mas quem que nunca imaginou
ver filmada a épica história de João de Santo Cristo? Eu não. O clássico foi
composto em 1979, tem exatamente 168 versos, nove minutos e trinta segundos
canção, todos convertidos em mais de 100 minutos estruturados pra tela grande.
Faroeste Caboclo retrata a saga do anti-herói brasileiro, do seu nascimento até
o catártico enfrentamento western de vingança e ódio entre Jeremias e João de
Santo Cristo! Como estrutura fílmica, devo dizer que foi bem mais sucedido que Somos Tão Jovens, funcionou. Ainda que
os separemos em caixinhas distintas, não se pode esquecer que trata-se de uma
canção, enquanto o outro, uma trama biográfica.
O diretor René Sampaio acerta
na ‘desromantização’ da letra, o que tornou possível o improvável, fazer o
(in)competente texto de Victor Atherino e Marcos Bernstein de canção virar
roteiro, e por sua vez, um filme! A espetacularização contida na história
poderia destruir o filme por completo, a ausência das câmeras da gente da tv juntamente a via crúcis que
jamais vira circo também foi exitosa. Sampaio foi muitíssimo feliz optando por
uma crueza nordestina na força da fotografia, onde a solidão e as lembranças de
Santo Cristo são muito bem desenhadas. Cabe ressaltar que estes pequenos
elementos, foram de longe INSUFICIENTES para justificar a fraqueza esquelética
do longa.
Nas deixas onde aparece
Brasília na década de 80 precisei me esconder, fracasso anunciado. Entre os
núcleos de Maria Lúcia (Ísis Valverde) devo confessar minha profunda e já
prevista decepção, as atuações de Valverde são mornas, a opção por
transformá-la em filha de um senador (Marcos Paulo) poderia ser interessante,
mas não convence. Também foi triste ver ‘globais baratos’ sendo empurrados goela abaixo,
Valverde em telas caseiras, no folhetim das 9 pode até funcionar, aqui definitivamente não convence, jamais deveria ser colocada na mesma tela de nomes
como Antônio Calloni, que diga-se de passagem, tem muitíssima presença na telona, queria vê-lo mais vezes.
Fabrício Boliveira como João de Santo Cristo foi bem,
mas não passou disto. As soluções dramáticas dadas ao casal são lamentavelmente
fracas, tem a profundidade de um pires, não se pode acreditar que tamanha
superficialidade possa ter causado o fatídico duelo. Por fim acho de extremo
mau gosto essa insistência em transformar livros (e músicas) em filmes. É uma
ideia (não só) do cinema brasileiro, mas que em nada faz-nos crescer
artisticamente, apenas (n)os bolsos da indústria. Desta vez farei
diferente, poderia citar mil situações pra justificar minha opinião acerca do
vi e ouvi, entretanto(s) ficarei apenas com mais um momento: Jeremias se
fazendo passar por Tony Montana (Al Pacino em Scarface) esfregando o rosto na cocaína, meeeeeeeu deus,
lamentavelmente TERRÍVEL. Não acredita? Assista e encare os sustos se puder!
SENÃO VEJAMOS
Perceba que esta critica é também um protesto, para que
casos como este devam repousar internamente em nossos corações, entre as mais
queridas lembranças de nossos heróis e vilões. De memórias nascidas
(acompanhadas) e crescidas através de uma maturidade mútua, não das construídas
artificialmente, ‘a toque de caixa’. Lidar com ícones dessa magnitude é bastante
complicado, seria quase como as frases que moleque escutava dos mais velhos:
“Não mexe aí guri, isso é uma relíquia!” São nossos tesouros, e desta forma faço
a mesma relação no que diz respeito à maioria das refilmagens, (re)mexer em
clássicos, seja da literatura, cinema ou música, penso ser totalmente
DESNECESSÁRIO. A desculpa é sempre a mesma, para as novas gerações, bobagem, a
nova geração é antenada, não precisa de subprodutos.
É bem verdade que ainda somos
nós - tão jovens, caboclos e cheios de eletricidade
descapadamente viva, mas aqueles que ousarem tentar retirar-nos isto,
estarão subestimando a força não apenas de uma geração, mas de uma LEGIÃO. Nem
Coca-Cola nem Y-Z, mas dos que tem sede à informação - sem
industrialização barata do cinema (caça-níquel), queremos pintar o sete e a sétima arte, não só de panis et circenses - de circo e pão, nós queremos CINEMA, pipoca e um pouquinho de atenção.
* Chega do cansaço de ser poeta (pseudo) pensador de
filtro solar, que exprime opinião, mas se furta à exposição.
Faroeste Caboclo (2013) TRAILER