O gênero da animação tem, recentemente, entrado em um turbilhão de criatividade gerado pela concorrência entre a DreamWorks e a Disney/Pixar em busca da liderança nesse mercado de filmes. Embora isso seja extremamente positivo para nós, espectadores, acaba se tornando um problema sério quando as produtoras evitam ousar, com medo de um possível fracasso. São perfeitamente evidentes as semelhanças na narrativa e, principalmente, as semelhanças estéticas, com uma tentando, digamos não copiar, mas se basear nos sucessos da outra. Esse é o motivo pelo qual cada vez mais, grandes filmes do gênero vêm de estúdios mais, digamos, alternativos (ao menos nesse mercado). Foi assim com Persépolis, com Valsa com Bashir, e agora, com O Fantástico Sr. Raposo.
O diretor e roteirista Wes Anderson, junto com seu parceiro de longa data Noah Baumbach, adaptam o livreto de 80 páginas de Roald Dahl para o cinema de maneira brilhante. A escolha por realizar a filmagem em stop-motion se mostrou perfeita, permitindo assim resgatar um ar meio que nostálgico dá década de 70, época em que foi escrito o livro (embora o filme se passe nos dias atuais), com seus tons quentes que dão um ar todo único à obra, ao mesmo tempo em que evita cair no clichê do, outrora original, filme feito com humanos e animais (que começou bem com Babe, mas entrou em uma decadência extrema).
Como todo roteiro de Wes Anderson ou de Noah Baumbach, a história se foca nas relações familiares, contando a vida de uma família de raposas. Após uma ligeira introdução onde se conta um pouco do passado do casal de raposas e somos apresentados aos personagens, chegamos à situação-problema, quando Sr. Raposo assalta as fazendas de três grandes fazendeiros, Boggis, Bunce e Bean, que passam a perseguir a família e os demais animais da floresta. Um filme que teria tudo para se tornar um clichê das animações infantis, mas que com seus personagens complexos, consegue se tornar uma obra-prima.
Sr. Raposo (George Clooney) é um ex-ladrão de galinhas que agora é colunista para um jornal. Aos 7 anos (42 anos-raposa) começa a sentir saudades de sua vida antiga e medo de terminar como seu pai, que morrera aos 7 anos e meio. Isso o coloca em uma crise de meia-idade que faz com que resolva colocar seus antigos dotes à prova, roubando as fazendas de três grandes fazendeiros, Boggis, Bunce e Bean.
Sra. Raposa (Meryl Streep) foi uma adolescente hiperativa e namoradeira, até conhecer o Sr. Raposo, de quem se tornou parceira de crimes, porém, com a sua gravidez, abandonou toda a sua forma de vida para se tornar uma chefe de família e mãe protetora. Aparenta sentir saudades dos tempos antigos, mas tem consciência de seu lugar junto à família.
Ash (Jason Schwartzman), o filho, é um adolescente que sonha se tornar um atleta, tal como o pai fora em sua juventude, mas não tem muito talento, o que o torna um tanto infeliz. Se sente desprezado pelas pessoas a sua volta, fato que se agrava com a chegada de seu primo.
Kristofferson (Eric Chase Anderson), o primo, é tudo o que Ash sempre quis ser: bom atleta, inteligente, popular, adorado por todos. Mas isso tudo de maneira totalmente passiva. Ele não tenta ser melhor do que Ash, ele apenas é. E essa inocência acaba o tornando o personagem mais engraçado do filme, embora seja, talvez, o único personagem que não esteja insatisfeito com sua vida.
Tudo isso completado com uma magnífica trilha sonora de Alexander Desplat, que se encaixa incrívelmente bem com todo o clima do filme. Canções simplesmente contagiantes que brilham na tela junto com os personagens.
Um estilo que remete ao curta-metragem Pedro e o Lobo um roteiro com diversas interpretações possíveis, dependendo de seu grau de inôcência, fazem desse um filme com a capacidade de agradar tanto aos adultos quanto às crianças. Um filme que leva o público a um estado de êxtase por quase uma hora e meia.