Sinto-me mais a vontade de falar de filmes sobre os quais encontro pontos positivos. Infelizmente esse não é o caso. “O Patriota” é um dos piores filmes produzidos pela indústria cinematográfica americana na última década.
Após ter “mostrado” a independência frente a alienígenas verdes ultra-belicosos, Roland Emmerich (um alemão de nascença) propõe de filmar uma história que tem como pano de fundo o processo de independência dos Estados Unidos. Queria talvez encontrar na origem o que nem vislumbrou em sua ficção cientifica: o ideal dos chamados pais da Pátria. Emmerich no entanto aprecia mergulhar em outras águas: seu métier é reduzir tudo na tela em pedaços. Aqui ele não chegará aos píncaros de sua filmografia anterior (Godzilla, Independence day ou O dia depois do amanhã). Mas sua sanha pelo espetaculoso, pelo fácil dar-se-á nas cenas de batalhas, onde por várias vezes vemos homens destituídos de membros. Que tal ocorra em batalhas é do conhecimento de todos. O que critico é o fato de tal, não desencadear nenhum comentário, se não entre os personagens, ao menos em quem assiste. Tudo devido ao tom de descartabilidade total que vigora em seu cinema.
Emmerich crer-se ousado ao eliminar durante a trama dois de seus heróis (os filhos de Benjamin Martin), bem como a esposa e os familiares de seu primogênito.
O filme não consegue colocar em cena nenhum personagem com características de um herói. Benjamin Martin não pode ser considerado um herói. Ele cometeu de crimes durante a guerra contra os índios e franceses. Durante o filme cometerá outros. O que o move jamais foi a idéia de patriotismo. O que o move é a vingança pura e simples. Ele seria apenas um homem transtornado pela perda dos filhos. Mas esse transtorno não pode ser percebido. Ele é inteligente para não se dar conta de que o que passa a fazer é exatamente aquilo que ele condenou quando fizeram com os seus. Alguns dirão que talvez o diretor optou por desmistificar a Guerra de independência e todas as outras guerras, afinal, lá no campo de batalha é impossível manter o sentimento de civilização. Contudo seu cinema é simples, o que desmente tal linha. Ele quer é mostrar a destruição física.
Outro ponto vulnerável por demais, é a metragem do filme. Quase três horas para exaltar a glória de um só homem é exagero.
Realmente tenho de concordar que os atores fizeram bem aquilo que lhe foi solicitado. Mel Gibson não decepciona, Heath Ledger cria um efebo apaixonado interessante e idiotizado, os atores mirins convencem (a cena em que a pequena Susan se atira chorando nos braços do pai é de uma simplicidade comovente). Jason Isaacs, no entanto é quem se sai melhor. Ele criou um oficial inglês, frio, cruel, impassível, destituído de sentimentos, uma verdadeira máquina de matar. Ele no entanto se sente fragilizado quando é repreendido pelo superior. Ele mostra ali, nos gestos comedidos, em seu olhar, toda a ambição, toda a fraqueza e tudo ao que aspira seu personagem. E esse lado humano, credita o personagem frente a obra. A cena em que ocorre a explosão do barco é outro grande momento de Jason Isaacs. Sem dizer uma só palavra, sabemos tudo o que ele sente.
Contudo o que adianta de atores talentosos, personagens até bens construídos, se todos estão a serviço de um diretor que sempre opta pelo fácil e pelo comercial.
Quem quiser se aventurar a buscar filmes que não soem piegas sobre o sentimento que inspirou os fundadores da pátria americana devem procurar filmes como “A mulher faz o homem” de Capra ou os filmes históricos de Ford (Juiz Priest, O prisioneiro da ilha dos tubarões, A mocidade de Lincoln, entre outros). Ford era irlandês, Capra italiano, mas eles compreenderam o ideal americano. Ao contrário do alemão Emmerich.