Causa e Efeito (2014)

Dirigido por um dos diretores do sofrível “O Filme dos Espíritos” (2011) essa produção estreou sem um maior alarde. Contudo merecia uma melhor sorte que o antecessor. Trata-se de um grande filme? Não, mas ao menos nos levanta um questionamento positivo: André Marouço aprendeu muito nesses 3 anos ou foi a direção dividida com Michel Dubret que criou aquela obra lamentável. A começar por (isso culpa de Marouço) nos informar que o roteiro antigo tinha algo de Kardec (creditado o Livro dos Espíritos como influenciador do que iríamos ver na tela). Um aviso importante para quem ainda não viu o filme. Não se trata de um filme espírita. Ainda que Marouço diga que se inspirou no Capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo Talvez o mesmo acredite que se trata de Espiritismo o que ele apreendeu dessa leitura e estudo que fez. Esqueçam. Ou pelo menos aprendam que não é. É um filme Roustangüista em sua essência. De cabo a rabo. E assim a tela ganhará uma história eivada pelo ideia de pecado (ou carma – não no sentido oriental, mas no popularesco). É o velho testamento e suas ultrapassadas lições de julgamento parcial: Olho por olho (opto pela curial citação de Gandhi: Olho por olho e a humanidade acabará cega).

“O filme nos conta a história do ex-policial Paulo que após perder a família depois de um trágico acidente envolvendo um motorista alcoolizado (Gerson) se revolta e passa a viver como um justiceiro (ou assassino de aluguel). Cooptado por um Deputado Federal (Gustavo) que lhe promete vingança contra Gerson ele lhe faz vários serviços. Até que ele lhe pede que mate Madalena, uma prostituta que lhe causaria problemas. Ao perceber que o deputado estava lhe mentindo e sensibilizado pela história da moça ele se revolta e a leva para um lugar seguro. Nesse locus amenus eles recebem a ajuda de uns líderes religiosos e acabam descobrindo que se gostam. Mas logo algo quebrará essa aparente tranquilidade.”

Não posso me queixar do roteiro. Dentro da proposta roustangüista ele está perfeito. Bem amarrado. O elenco ajuda. Já a direção e a parte técnica ficam a dever. Se os atores estão convincentes, o que vemos na tela, ganha ares de amadorismo em várias cenas. Parece aquele teatro do ensino médio bem realizado, mais ainda amador. A impressão que se tem é que foram atrás de belos locais, mas não injetaram na feitura dos enquadramentos uma maior preocupação artística. Trata-se de ficção, não de documentário. Os atores se entregam bem aos papéis, mas não encontram na parte técnica o arcabouço necessário para que os seus esforços sejam recompensados. Se Marouço se mostra um competente diretor de atores, falta-lhe um maior amadurecimento nos outros quesitos: fotografia, edição, etc. Podemos creditar tal a falta de uma melhor estrutura financeira. Mas somos informados que as locações se deram em várias cidades. Não teria sido preferível ter economizado nesse quesito e investido em outros?

Apesar desses “entretantos” o filme agrada. Está melhor estruturado quea grande maioria dos ditos filmes da Globo Filmes e vários outros vindos de outras plagas e que fazem sucesso imerecido por aqui. Méritos a equipe que ao menos provou que acreditava no que estava realizando. Uma das virtudes é justamente uma maior velocidade imprimida ao mise em scène. Não se tem tantas reflexões desnecessárias e tantos momentos mortos (ou seria desencarnados?) como na obra anterior. E sinceramente, ainda que não crível, a união de um pastor, um padre e um dirigente espírita em prol de uma comunidade é algo desejável e uma lição a ser aprendida. Trata-se de uma quimera, daquelas que poderiam se tornar realidade. Algo que só a anulação do fanatismo pode realizar.

“Causa e Efeito” pode não causar grandes suspiros de satisfação em quem se dignar a assistir. Mas o esforço da produção é louvável. E a história ao menos é coerente. E a evolução apresentada entre esse filme de Marouço e o seu antecessor é gratificante. O que por si só vale uma espiada. Espero que consiga realizar outras obras. Fico no aguardo de sua próxima investida. É isso.


Escrito por Conde Fouá Anderaos
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