A Onda (2008)

De certa forma já vivi alguns momentos em que a premissa desse filme se tornou clara diante de meus olhos. Fiz duas faculdades. Ambas na FFLCH da USP: Letras e História. Entre a conclusão delas um hiato de 12 anos. Quando cursava a segunda vi um certo Partido Nanico de esquerda contagiar toda uma leva de alunos. E vi alguns desses alunos (inclusive amigos) se tornarem fanáticos e incapazes de terem um viés críticos. Não diferi o resultado daqueles de quem adentrou nas hostes da TFP ou de alguma Igreja Pentecostal qualquer. O pior é que quando seus representantes pediram espaço para falar em sala de aula, achei tudo aquilo muito cômico e acreditei estar diante de um espetáculo de humor involuntário. Até falei para um outro colega que o cara parecia o Duce. Ri muito. Quando as urnas da votação dos representantes dos alunos foram auferidas tive um choque. Aqueles seres de olhos vítreos, robotizados, angariaram a simpatia de cerca de 40% dos votantes. Quis entender como um discurso tão oco e rasteiro fazia a cabeça de meus colegas de curso. A resposta é simples. O discurso e a proposta são simples, dizem o óbvio, criticam tudo sem nada apresentar de realmente viável para alterar a realidade. Não basta ter uma proposta inteligente, tudo tem de parecer fácil. E nesse sentido eles faziam a cabeça de todos. Tive de conviver com eles durante mais de três anos. Por ser mais maduro que os demais, não miravam a atenção em minha pessoa. Devem ter sido doutrinados para investir em carne nova. E é o que faziam as vezes de forma intimidatória. O ápice foi quando numa greve esse líder partiu fisicamente para agredir um professor de quase 70 anos que queria ingressar na faculdade para pegar livros em sua sala particular. O pior só não se deu por que alguns o contiveram. Agora outros foram agredidos, pegos em tocaias covardes. E essa turma sempre desmentia perante a multidão o que fazia as escusas...

Baseado em um romance escrito por Todd Strasser o filme conta a história de um professor de Educação Física encarregado durante uma semana de ministrar um curso sobre autocracia na semana cívica. Um outro professor mais idoso e menos carismático ministra um curso sobre anarquia. Lógico que o tema é mais aceito, mas a figura imponente de quem ministra atrai mais adeptos.

Quando um aluno lhe diz, logo na primeira aula, que na Alemanha de hoje, vacinada com o peso da história e da culpa, uma ditatura jamais poderia ganhar espaço. Isso chama sua atenção e ele passa então a elencar os elementos necessários para que uma ditadura possa existir: Desemprego, Inflação, injustiça social, necessidade de união, de identificação e de proteção. A medida em que a receita é criada, Rainer Wenger (o professor) a manipula: É preciso um líder? Ele o será. Uma doutrina? A obediência cega e a disciplina. Um uniforme? Uma camisa branca. Um nome? A onda. Um símbolo? Uma onda espalhada por toda a cidade. Uma saudação? Uma onda feita com a mão direita.

Em alguns dias, sem que os alunos percebam, quase todos são arrebatados por tais idéias e começam a materializar tudo aquilo que o passado mostrou ser absurdo. Formam uma gang e passam a perseguir as outras. Quem não quer participar do movimento é escluído e estigmatizado. Quando a Onda se transforma em um tsumani o professor tenta despertar a consciência e interromper o movimento. Não será tarde? Ainda que possível, haverá seqüelas?

Um tema atualizadíssimo em um filme honesto e bem resolvido. Vale a pena conhecer. O inimigo espera um cochilo para se tornar presente.


Escrito por Conde Fouá Anderaos
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