Assistindo as últimas paródias que foram feitas, nós acabamos, por amor ao bom Cinema, voltando no tempo, buscando a verdadeira essência do humor, nas obras que foram precursoras do subgênero supracitado. "Alta Ansiedade" (High Anxiety, 1977), dirigido e estrelado por Mel Brooks, ainda é considerado como um dos primeiros filmes que acertaram nessa fórmula. Além de focar na comédia, "Alta Ansiedade" declara, nos primeiros minutos, uma homenagem ao grande mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Com base nisso, Mel Brooks relembra algumas cenas antológicas das principais obras do inglês, numa paródia bem construída e, acima de tudo, divertida. Produzido três anos antes de "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu" (Airplane!, 1980), avaliado como um dos filmes mais engraçados de todos os tempos, além de ser considerado como outro grande pioneiro da paródia, "Alta Ansiedade" conta a estória do Dr. Richard H. Thorndyke - interpretado pelo próprio Mel Brooks - que acaba de assumir o cargo mais alto de um instituto psiquiátrico. No entanto, com o passar do tempo, o Dr. Thorndyke descobre que existe alguma trama por trás da morte dos antigos diretores. A temática envolvendo a psiquiatria, já denuncia uma referência ao cinema hitchcockiano, especialmente no filme "Quando Fala o Coração" (Spellbound, 1945), que também aborda essa questão, mas, claro, num tom diferente. Assistir "Alta Ansiedade" depois de ter conferido as produções dessa última década, pode comprometer o efeito da obra, afinal de contas, ultimamente, os diretores apenas reciclam os bons momentos dos filmes antigos. Parte do público gosta desse formato de produção e, justamente por isso, os realizadores desse ramo da indústria cinematográfica não se esforçam para trazer experiências ímpares ao espectador, colocando o gênero nessas condições desagradáveis. No entanto, de qualquer forma, "Alta Ansiedade" não se mantém apenas em piadas bem construídas. Os personagens caricatos, passando por um motorista bizarro, e até mesmo um paciente que acredita ser um cachorro, sustentam o clima cômico, mesmo que, por vezes exagerado, da produção. As referências aos filmes de Hitchcock, principal intenção do filme, trazem outro grande diferencial. Mel Brooks passa pela famosa cena do chuveiro de "Psicose" (Psycho, 1960), pela estrutura rodeada de pássaros, em "Os Pássaros" (The Birds, 1963), pela vertigem do Dr. Thorndryke, além das tomadas na escadaria e na Baía, que remetem a "Um Corpo Que Cai" (Vertigo, 1958), sempre esbanjando um humor agradável. Existem muitas outras relações com a filmografia de Hitchcock, por isso, "Alta Ansiedade", além de funcionar como comédia, satisfaz os amantes apaixonados pelo trabalho diretor, que tendem a ficar buscando todas as referências possíveis, no decorrer do filme. Os bons momentos são regulares, mantendo um mesmo ritmo, até o final. O filme acaba parodiando os próprios quesitos da produção, como por exemplo: nas cenas em que os personagens acabam ouvindo a própria trilha sonora do filme, ou até mesmo, na cena em que a câmera começa a se aproximar do vidro, até quebrá-lo, fazendo referência à técnica empregada em "Cidadão Kane" (Citizen Kane, 1941). A ordem das piadas acaba ditando o ritmo do desenvolvimento da trama, que fica em segundo plano, onde deveria ser ao contrário. Mel Brooks realiza um bom trabalho atuando, chegando a receber uma indicação no Globo de Ouro, ao lado da belíssima Madeline Kahn. A comédia trabalha junto com a experiência saudosista, dividindo a atenção do espectador. A construção do "exagerado" é competente, diferentemente do que vemos nessas últimas produções, onde o humor se baseia em situações mal trabalhadas, tentando, descontroladamente, arrancar um sorriso do espectador; o típico besteirol. Longe de ser uma obra-prima, mas ainda assim, um bom resultado para uma tentativa inusitada, que acabou recebendo outra indicação no Globo de Ouro, na categoria de "Melhor Filme Comédia/Musical".
Alta Ansiedade (1977)
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