Um relatrório chega à cavalaria norte-americana relatando que o líder apache Ulzana deixou sua reserva indígena acompanhado de alguns seguidores. A um jovem oficial, o tenente DeBuin, é dada a missão de encontrar e capturar Ulzana. Para tal, ele recebe o apoio de McIntosh, um pistoleiro experiente, e de Ke-Ni-Tay, um guia apache. Ulzana deixa um rastro de massacres, estupros e saques por onde passa, e logo DeBuin e seus homens encontram tal rastro, que os leva a repensar a visão que eles têm dos índios. Repensar a visão dos índios. Aí é exatamente onde Robert Aldrich pretende levar o espectador, e o maior símbolo disso é o diálogo em que DeBuin pergunta a McIntosh por que os índios fazem tudo aquilo. A resposta a essa pergunta é o próprio filme, que retrata os índios, tal como o próprio Aldrich fizera em seu O Último Bravo de 1954, e como se estava sendo feito ali no início dos anos 70, como as vítimas da história, homens que vêem sua terra e sua cultura serem tomadas a força por invasores estrangeiros. Todos os atos de possível crueldade por parte dos índios é apresentada como um esforço para garantir a integridade de seu povo. Em dado momento, DeBuin questiona a cultura indígena caracterizando algumas de suas práticas como sendo "não-cristãs". A nós, fica apenas a idéia final em relação a isso de que não nos cabe julgar as atitudes existentes em uma cultura diferente da nossa. E essa questão de choque de culturas e imperialismo cultural Aldrich utiliza para fazer uma ponte, ligando a expansão norte-americana em direção ao Oeste com a Guerra do Vietnã, levando o público a perceber uma série de semelhanças entre ambos. Após quatro fracassos de público na carreira de Aldrich, o diretor acabou sendo impelido a abandonar o seu estúdio, vendido em um leilão, e retornar ao estúdio de Burt Lancaster, que além de produzir, estrelou o filme na pele de McIntosh. E essa introdução de Lancaster acabou levando a um fato curioso. Incontente com o resultado final da montagem de Aldrich, Lancaster reeditou o filme, mudando assim algumas tomadas e diálogos, de modo que existem soltas pelo mundo duas versões, semelhantes mas distintas, de A Vingança de Ulzana. Embora parta de uma premissa um tanto quanto interessante, sendo quase que uma evolução dos ideais introduzidos em seu Apache, Aldrich acaba por construir uma obra demasiado subjetiva, colocando seus objetivos em segundo plano diante de um aparente faroeste como outro qualquer, tanto que em dado momento, Aldrich chegara a alegar que o resultado final da obra não lhe agradou. Embora seja mais lembrado hoje como um diretor de faroestes, foi nesse gênero que Aldrich experimentou seus piores momentos artísticos.
A Vingança de Ulzana (1972)
Jorge
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