Vicky Cristina Barcelona (2008)

Sou um admirador do cinema de Woody Allen. É um dos maiores cineastas em atividade e já deixou seu nome marcado da história da sétima arte. Construiu uma obra consistente e soube além da comédia passear por outros gêneros com desenvoltura. Muitos disseram que nos últimos anos ele estava em decadência (algo com que eu não concordava). Agora chegou até nós um filme onde uma das atrizes angariou mais uma premiação do oscar e a crítica em geral foi benfazeja para com o filme. Custa-me acreditar, mais em minha opinião ele errou a mão. Não consegui ver em nenhum momento aqueles momentos de genialidade e inteligência que marcam sua filmografia.

Existe no filme uma morena chamada Vick (Rebecca Hall - uma grata surpresa), uma loira e uma outra morena de nome Maria Elena. A junção das três dará o título ao filme: Vick Cristina Barcelona. Aqui um primeiro problema. Existe uma visão estereotipada da raça espanhola. Maria Elena não pode carregar em si o nome da cidade de Barcelona. Ela lá vive, mas longe está de representar uma fatia considerável das mulheres daquela localidade. Sabemos do puritanismo do americano. Da visão que eles possuem de que nos países latino tudo é permitido. Em si a história parece se resumir a essa visão estadunidense da vida. Que longe dos Estados Unidos qualquer um pode mergulhar num mundo hedonista. Que o americano está preso a uma visão moralista que o impede de desfrutar a vida. Allen deveria pelo menos conhecer a visão dos americanos sobre eles próprios nas séries de TV que nos chegam pelos canais abertos e fechados. Lá vemos a idéia de que a sociedade americana já deixou de ser puritana faz tempo (existe o ranço, mas cada qual vive para buscar o prazer a qualquer custo: Las Vegas e CSI - todos, para não deixar de citar nenhum). Sei que Allen detesta a TV. Basta então abrir as páginas policiais, constatar o aumento da violência e das drogas.

As boas interpretações, o domínio da câmera está a meu ver a serviço de um roteiro que não é digno de seu talento. Alguns dirão que o amadurecimento fez com que Allen explorasse o sex-appeal de seu elenco. Não um sex-appeal vazio, mas dotado de eloqüência, de espírito e de cultura próprio de suas criações. Ok, mas dotar o espanhol de uma testosterona, de um epicurismo e altivez não parece uma química plausível. Um Don Juan moderno e caricato acaba se tornando o personagem de Javier Bardem. E a forma com que as americanas lhe caem nos braços, sem em nenhum instante temer o outro (por mais culta e liberal que sejam) é irreal demais. Exagerada também Maria Elena. Um artista genial e ao mesmo tempo suicida. Alguém que para se equilibrar precisa ser limitada por uma outra na vida íntima.

Ao final do filme notamos que a presença de um narrador mais presente que em suas outras obras onde foi utilizado tal recurso não foi gratuita. Foi uma tentativa de tentar amarrar com uma lógica, uma história fraca. Já nos indicava que faltou liga em seu roteiro. Liga e conteúdo.

De positivo no filme o final. Tudo acaba de forma natural como nas outras suas últimas obras. A diferença é que em “Ponto final” e em “O sonho de Cassandra” havia um conteúdo extremamente bem amarrado antes que os créditos finais surgissem.

Em suma um filme onde o bom elenco foi desperdiçado em uma história banal e medíocre. Bem longe do que o diretor pode nos oferecer. Que Allen se afaste com urgência do sol que lhe parece mais amarelado na Catalunha. Ou que ao menos perceba que o cenário pode ser outro, mas que ali cabe também aqueles personagens de cunho universal que ele já criou. Torço por isso.



Escrito por Conde Fouá Anderaos
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