Adeus, Lênin! (2003)

Confesso que ao assistir “Adeus Lenin” fiquei profundamente impressionado. É um daqueles filmes que se vê com prazer. Dotado de uma temática simples e inteligente. Alex é o protagonista. Sua mãe é uma entusiasta defensora do regime socialista implantado na Alemanha Oriental pelos soviéticos. Ela sofre um enfarto e entra em coma. Enquanto está inconsciente, dá-se a queda do muro de Berlim e o regime muda, bem como o cenário a sua volta. A parte oriental se vê invadida pelo que existe de modernidade no lado de lá. Os muros se vêem cobertos de propagandas de produtos capitalistas, modernos veículos ganham as ruas. Oito meses após a queda, sua mãe abre os olhos. Os familiares recebem a recomendação de que ela não pode receber nenhum choque, já que seu coração enfraquecido não suportaria. Em suma: Ela que era uma entusiasta do regime desaparecido, não deve ter conhecimento de que o mundo que ela conhecia desmoronou. Seus familiares farão o impossível para que ela nada descubra. É dessa batalha diária que nasce o humor e a trama deste singelo filme.

Muito da força dessa película nasce do distanciamento que existe entre o presente e o passado. Distanciamento não tão grande, para que aqueles que viveram aquele mundo pudessem o recordar criticamente. Os elementos trágicos da mudança ganham ares cômicos, mas mesmo assim não há como não pensar que seu roteirista e diretor fez uma aposta arriscada: Retratar as feridas é sempre temerário. Mesmo assim ela está ali nítida, afinal não se pode negar que a divisão geográfica e ideológica deixou suas marcas. No filme a vemos desnuda quando tomamos consciência que o pai do protagonista fugiu para o Ocidente, o que fez com que a mãe para se vingar (ou suportar) a separação, aderisse com entusiasmo o regime vigente. Em outros momentos (o supra-sumo da sutileza), os alemães não conseguem se comunicar, pois o fato de um ser do Oeste e outro do Leste, cria dificuldades nos diálogos, já que a referência que um utiliza, não é de conhecimento do outro.

Os noticiários dos últimos dias do governo do Leste, soam por demais envelhecidos, ainda mais para aqueles que viveram aqueles dias e o podem assistir após um hiato de apenas uns 12 anos. E o que soa é a idéia de “Adeus”, que permite que todos os assistamos com a sensação de libertação. Quebra dos muros que são erigidos pela vida: o do muro de Berlim, o do muro que separou os filhos do pai, e também daquele que foi erigido para que a família desfrutasse de algum tempo mais com a mãe amada.

Um filme que merece ser apreciado pelo que traz de original, mas que carece de melhores intérpretes e de uma produção mais acurada. Além do roteiro excelente, a música (ótima) ajuda a diluir o acre causado pela recordação de um passado ainda presente. Merece ser assistido sem sombra de dúvida.


Escrito em 17/07/2017 por Conde Fouá Anderaos
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