A Pele de Vênus (2013)

O homem e sua musa. O diretor e sua atriz. As relações entre um e outro, de subordinação ou não, sempre terão conflitos. O confronto eterno entre a visão do autor – ou adaptador – de uma obra contra a visão alheia.

Thomas (Mathieu Amalric), não é apenas uma figura da arrogância, um intelectual persistente único, mas representa todo o conjunto de criadores e da megalomania que a arte traz na vida de alguns homens. Polanski, ironicamente, com seu humor incorrigível, desenha Thomas, a vontade, o espírito artista de criar, de sonhar e consequentemente sofredor, para justamente brigar com a visão de uma atriz, da realidade. O diálogo do filme de Polanski gira em torno não de discursos, conversas diretas, mas sim indiretas, através da ficção que se torna realidade e da realidade que se torna fantasia. Se em Deus da Carnificina (Carnage, 2011), seu mundo caótico e infernal sob quatro paredes, fazia com que os personagens em confinamento confrontassem uns com os outros através de gestos, olhares que por mais que tentasse encontrar alguma fuga, não conseguiam se desviar um dos outros, em A Pele de Vênus (Le Vénus à Fourrure, 2013), Polanski torna essa relação mais infernal, seus personagens apesar de relacionados a algum em comum (o teatro, a arte) se diferem tanto em linguagem quanto em pensamentos.

O show de Polanski, começa aí. Seu humor/suspense se da justamente por esse contato de polos diferentes, mas atraídos. Vanda(Emmanuelle Seigner), a atriz escrachada, confronta o autor/adaptador, não apenas por puro luxo, mas sim pela resistência ao tipo de pessoa a quem o pobre coitado Thomas representa, mas não admite. Afinal, nada mais irrita, um intelectual, um sonhador, do que rotular um conto de mil oitocentos e tanto de “conto pornográfico”. Desde a linguagem (obscena, humorada e simples de Vanda e a hipócrita, refinada e complexa de Thomas), Polanski desmorona o mundo apenas naquele pequeno teatro, casa dos sonhos que se torna pesadelo.

A derrota de um pensamento, a subordinação que Thomas, encontra a partir do desconhecido, a nossa atriz, Vanda, é a premissa para Polanski impor seu testemunho de relações, tanto na arte quanto no social, criando a comédia caótica do destino, praticamente se tornando uma poesia, um poema sobre uma das relações mais antigas entre homem e mulher, visões artísticas, sedução e tentação. O conto contemporâneo sobre o teatro de Polanski, torna-se então, nada mais nada menos do que a eterna subordinação do criador, do artista, do todo-poderoso, de todos nos a inenarrável beleza, exclusivamente, feminina.

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