Cão Vermelho (2011)

Há uma frase clássica ou pelo menos implícita em praticamente todo filme de cachorro ou sobre cachorros, que mais uma vez Cão Vermelho (Red Dog, 2011) faz questão de repetir: “Ele é um cachorro especial”. De fato, desde Beethoven, o Magnifíco (Beethoven, 1992) até os mais recentes Marley e Eu (Marley & Me, 2008) e Sempre ao seu Lado (Hachiko, A Dog Story, 2009), todos e quaisquer personagens que tenham um mínimo de relação com o animal farão questão de repetir essa frase. Mas em Cão Vermelho há finalmente um suspiro ou afirmação de seu ato.

Como uma história lendária, Kriv Stenders, coloca na alma de seu filme um espírito que assume sua posição. Embora essa posição, talvez cruel e limitada, possui uma liberdade de criação e construção narrativa que permitem que não fiquemos aguardando o destino final perto do último ato que tanto ocorre em filmes do tipo, como Marley e Eu, ofuscando a tragédia pela aventura. Claro que são filmes de corpo e alma no mínimo diferentes, mas não há muita saída para um filme que guarda uma previsibilidade tamanha em sua obra.

Partindo assim, Red Dog usa tudo o que seu gênero possui, não escapando do óbvio, mas sim enfrentando o mais duradouro, por assim dizer. Stenders então coloca sua câmera não apenas aberta para o chororó ou para o moralismo, mas também pelo que o gênero possui de melhor, nostalgia. É disso que o filme se alimenta e dura, dessas peculiares relações entre cachorro e sua família, que no caso se concentra em um todo vilarejo.

Porém que ninguém se engane, Cão Vermelho não é um filme sobre “passado”, no sentido ~temporal~ da palavra. Se existe um chama que se sobressai aqui, seria essa perspicácia de tempo e espectador. À medida que o filme se desenvolve e evolui, apesar de como já dito antes, termos aqui um filme com todos os defeitos e belezas de seu gênero, não usa dessa atmosfera como apenas uma terra acolhedora e trágica, mas principalmente como viva. Em Sempre ao seu Lado (Hachiko: A Dog Story, 2009) a estátua que vemos de seu cachorro não é a mesma vista aqui e por x motivos, essa espécie de filme sempre derrapa de maneira inconsequente e muito escassa quando vamos para o sentimentalismo do ato final que você bem sabe diminuindo o filme e o limitando há apenas uma função.

Os momentos intensos, porém aqui são praticamente todos superficiais por esse mesmo motivo cruel de abranger tudo que pode mesmo a moral que tende a ser onde todos os espectadores se colem em suas cadeiras ou chorem de rir (ou chorar), a linha de red dog não foi feita para seguir esses conceitos básicos e trata os de forma pouco corajosa e profunda, por isso que aí se concentra a explicação de cão vermelho não habitar tão bem esse espaço ao qual ele sempre foi vira-lata.

Se tratando da inversão de posições (onde o cachorro adota o vilarejo), pouco a película de Stenders tem para mostrar (o que talvez explique os seus curtos e rápidos 92 minutos), passa uniformemente e cumpre sua missão, a que veio, de película de todo esse espírito que os filmes de cachorros possuem mesmo no fundo, tirando no caso o que traria uma canseira rítmica que seus filmes “parentes” tem da ambição e pretensão de manter mais longa a duração da emoção, omitindo o que já deveria ter acabado a meia-hora atrás.

Enxuto, consegue aliar todos os espaços do filme com uma regularidade pouco vista nos dias de hoje e se não foi o suficiente para tomar firmemente decisões mais sábias e à risca, Cão Vermelho (Red Dog, 2011) assume todos os defeitos e acertos de cara limpa, começando e acabando em uma regularidade eficaz, tornando assim a estátua de seu cachorro em uma posição mais panorâmica e nostálgica de todo bom filme do gênero que cumpre seu papel. Pelo menos até o final da tarde.

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