Blue Jasmine (2013)

Woody Allen é um dos diretores mais conservadores e sinceros do cinema, principalmente quando iremos falar sobre relacionamento(porque, Woody não trata apenas de um tema). Já faz tempo que o discurso de Allen vem subindo escalas que discutam a psicologia humana, pois é evidente que todos os personagens de Allen(pelo menos todos que pude observar até agora) são extremamente problemáticos, demonstrando ou não claramente ao público, é um fato que dentre as belas paisagens de Paris, Nova York, Roma e agora São Francisco não pode esconder, pois mais do que um apaixonado por cinema, Woody Allen é um romântico incorrigível.

Blue Jasmine(idem, 2013) é um filme que termina da mesma maneira que começa, e puxa muito mais daquilo que a de denso, profundo e sólido em seu cinema do que a beleza interminável de romances. Mesmo em Manhattan(idem, 1979) existe um certo drama que não resulta em um Allen tão pessimista quanto em seu mais novo filme, pois este resulta em um caminho que dentre tantos filmes apesar daquele amor shakespeariano, ou classicista como em Casablanca(idem, 1942) não dá algum resultado satisfatório para que o espectador bem confortável em sua poltrona assista, compreenda e saia como aquele sentimento que já estamos acostumados a ver, pois se a algo que Blue Jasmine(idem, 2013) tem é angústia e loucura(uma verdadeira homenagem ao caos que o fim de um relacionamento pode propor).

A partir do momento em que Jasmine(Cate Blanchett, excepcional) vai a São Francisco, seu mundo desaba, e é engraçado ver que talvez, este seja o personagem a qual, dentre alguns outros, exponha tanto do que a em cada um de nós. Jasmine não passa de uma dondoca que saiu da vida de luxo e agora vive em um mundo subalterno desconhecido e totalmente diferente para ela. Woody Allen provavelmente nunca judiou tanto de uma personagem(isso no bom sentido, óbvio), quanto o fez aqui, a nossa protagonista tem choques emocionais, toma calmantes regularmente, chora e é realmente estressada, é o perfeito contexto que o nosso romântico nova-iorquino se dispõe para explorar seus temas. Woody Allen não perdeu o fator lúdico, nem mesmo o tom da comédia romântica(esse daqui pode ser até mesmo considerado mais engraçado que seus dois últimos filmes), mas o que encontramos aqui é uma peça mais rara que extrai dentre algumas obras de seu autor, como Memórias(Stardust Memories, 1980) - o provável filme mais “Woody Allenístico” que existe nessa terra - complexidades da vida amorosa, nem sempre marcantes em seu filmes, ou mais diretamente em suas tramas, talvez por que de uma forma ou de outra Jasmine é Woody Allen.

Para servir de maior intensidade dessa complexa mente de Allen, temos o claro exemplo em Blue Jasmine(idem, 2013) o fator tempo. Viajamos com ele, para aprofundar nas ressacas que Jasmine tem atualmente, graças ao passado, algo que Allen gosta tanto de tratar como uma máquina devastadora e marcante não apenas prejudicial à vida amorosa atual, mas também em crises, por assim dizer, existenciais. Hal(Alec Baldwin), o canastrão, rico e traidor, é uma das peças-chaves(por mais irritantes que sejam) que funcionam para Allen tomar a iniciativa de despedaçar em uma trágica e sempre humorística aventura. Por que tanto o destino final deles no passado quanto dos filhos que teve com Jasmine(embora tudo isso pareça muito rapidamente e cause uma coerente confusão) servem para explicar em um tom mais novelístico(que de qualquer maneira é maravilhoso) toda essa história, que tanto necessita dessa diferença, fator especial, pelo menos na carreira/filmografia de Allen. Até onde a inveja e busca por aquisição se resulta? Allen responde com clichê e personagens nem sempre criativos e com uma trama por vezes novelisticamente caricata, mas ele acredita no poder da realidade conservadora, por que o amor é no fim, nada mais do que um sentimento tolo e que de intensidade para intensidade, continua no final, o mesmo, por isso esses fatores não são prejudiciais à trama, mas sim essenciais, pois este é um filme potencialmente mais pessimista e “sem futuro” mas com direito de deixar o espectador se sentar junto ao banco e chorar as pitangas, mas principalmente refletir em uma praça, a praça dos que foram agredidos pelo amor e tudo que reserva.

Jasmine não é louca, Ginger(Sally Hawkins) – sua irmã - não é burra e toda essa trama montada de Woody Allen, pode ser uma história moralista e até mesmo de arrependimentos, mas estes os mais sinceros. Se Allen, com toda a sua técnica, excelência e qualidade, continua por vezes com seu romantismo conservado, é dele que vem o classicismo de uma época e a sinceridade de outra, Allen é dos diretores mais geniais em atividade e que só aprende e faz aprender mais com o passar dos anos, como o vinho, Allen vai se tornando mais delicioso de se desfrutar e aventurar-se. Se a comédia romântica e as histórias românticas, já não possuem coragem para despertar a realidade de uma vida sem perder o fio da meada e/ou ainda acham antiquado a certa moral, clichê ou até mesmo o “melodrama” classicista, Woody Allen vai continuar renovando e provando que estilos não envelhecem e nem saem do circuito jamais, mas sim proliferam e criam raízes maduras observando e estudando os outros(pois é isto que Allen, trabalhou desde sempre). É maravilhoso ver como conseguiu construir uma história romântica, basicamente sobre uma música de Jazz(Blue Moon, uma obra-prima musical), relembrando o melodrama e a melancolia em um amor verdadeiro, ou inveja, ou sofrimento, seja lá todos esses sentimentos que forem, em um clássico do passado(que poderia ser perfeitamente um marcante filme da década de 50 ou 60) e do presente(e é extremamente atual, ou atemporal), enfim, um clássico perdido no tempo. Em Manhattan, em Paris, em Roma ou em qualquer cidade do mundo, estaremos sofrendo por amor.

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