Gran Torino(idem, 2008) é com certeza um dos filmes que mais chamaram atenção na útilma década. Que Clint Eastwood retrate uma história que de maneira ou de outra simbolize um panorama de sua própria carreira é apenas o primeiro passo. Quando o famoso carro da Ford, tão conservado e defendido pelo seu dono(um americano que diga-se de passagem, bem sofrido) é quase roubado por um menino Thao Vang Lor(Bee Vang) é ponto inicial da partida, que Eastwood vire as câmeras para diversos assuntos e temas desenrolando principalmente na relação entre o velho Kowalski e o jovem oriental.
O cinema que Clint Eastwood vem fazendo, não de seus clássicos como Os Imperdoáveis(Unforgiven, 1992), mas sim dos últimos 10 anos, Sobre Meninos e Lobos(Mystic River, 2003) da um gás possível para entender melhor sua situação, um cinema humanamente simplório porém fundado em feridas que voltam a sangrar e perturbar, um cinema que trata de memórias que mais parecem cicatrizes. Não menos, o velho americano interpretado por Clint, sentado em sua casa(bandeira americana içada, cores brancas...), patriota da nação é cutucado por especificamente um inimigo a que já estava próxima durante a segunda guerra mundial, o povo oriental.
A arrogância da personagem de Clint é algo único, principalmente por que nem mesmo o passado explica tal revolta, e começa assim o primeiro diálogo dele com o espectador, o sofrimento da guerra. O monstro, que talvez não tenha tantos ataques emocionais expostos(isso por que o conservadorismo bata tanto ou mais alto em sua cabeça). É dessa ignorância aguda que o personagem “pré-histórico” vive com seus medos e se aproxima deles, um povo que entende mais dele que a própria família, que tenta devorar sobre tudo pegar sua herança, e não aquela que os três rapazes(algo que Eastwood gosta de explorar) veem, documentos de guerra e registros sobre, mas sim dentre outros bens, o velho Gran Torino, título do filme e outro assunto.
Gran Torino, que carrega todo esse peso e cobiça, é principalmente um dos objetos-chave ou o principal retorno ao passado, tanto na época em que trabalhava na Ford quanto a guerra, um símbolo do conservadorismo dos bons costumes. Mas com certeza, não podemos negar que é a riqueza que mais presa porque os registros e a arma guardada em sua velha e armazenada, pulam ao salto de oposição e desarmonia, do soldado ensinando um jovem oriental ao mundo.
Que Thao seja “educado” pelas regras de uma nova sociedade a qual ainda não aprendeu a viver, é no mínimo incomum vindo principalmente de parte de um homem ressentido, mas talvez as sequências mais deliciosas, poéticas e filosóficas do filme, viajando para um eu interior e uma lição pura e bem filmada, peça-chave da carreira do diretor.
Do bang bang até as aventuras, encostando diversas vezes na religião, Kowalski é Eastwood e Eastwood é Kowalski principalmente em um dos maiores fatores discutidos e abordados delicadamente em Gran Torino, a maior lição que o tio Clint tem para ensinar nesse testemunho maravilhoso, é além dessa questão de vida ou morte sempre tratadas como extremos, e verdadeiramente algo que o cinema precisava, algo rico e limpo. É padre de 20 e tantos anos querendo discutir vida, menino de 18 ou 19 anos roubando, gangues se aproveitando e mesmo assim ainda não aprenderam algo valioso sobre a vida, que se baseava principalmente no meio dessa equação a qual Clint vem mostrando, do horror a comédia e da aventura ao drama, algo que por muitos, se passa pouco nítido, assim cabe a experiência falar mais alto para que esse patamar seja descoberto, passando mais dessa espontaneidade tão presente e ignorante, assim demonstrado do velho ao jovem, da velhice a juventude o fruto da vida, que dentre várias experiências, pode ser dirigir um Gran Torino na rua sob o sol.