Argo (2012)

“Em 04/11/1979, quando a clima de tensão entre o Irã do Aiatolá Khomenini e os EUA atinge o seu ápice, manifestantes tomam de assalto a embaixada americana em Teerã fazendo mais de 50 estadunidenses reféns. Eles exigem o reenvio de Xá Reza Pahlavi (O anterior governante) para que fosse julgado por seus crimes e seu servilismo aos países ocidentais em detrimento do seu povo. Contudo seis funcionários da embaixada conseguem escapar e encontram abrigo na embaixada Canadense. Os invasores da embaixada americana contudo ao fazerem uma verificação atenta dos documentos que foram parcialmente destruídos, podem perceber tal ausência e sair a captura deles, o que pode significar a sua morte (todo americano era tido como espião). A Cia no entanto investe na ideia pouco ortodoxa de um de seus membros que os pretende retirá-los de lá com um plano pra lá de mirabolante.”

Quando o antigo logo da Warner ganha as tela estamos sendo inseridos dentro de uma época que já passou. Para isso o diretor opta por vários truques: letras redondas, ligeiros scratchs sobre a película, fotografia seca, granulosa e descorada.

Não se trata de mais um filme de espionagem. Não que ele em certas horas não nos deixe como que faltando o ar, alterando tais momentos com outros brandos. Um filme que não tem vergonha de ser patriota, mas o é de maneira comedida e ousa citar os podres que colocaram seis vidas (mais a do agente da Cia) em risco. Um breve relato da história recente do Irã é contada e mostra como os EUA interferiu naquele país com o intuito de se beneficiar. São cerca de quatro minutos. Neles vemos o poder passar das mãos de um nacionalista popular a um extremista islamita. Entre ambos um Xá oportunista e corrupto.

Para nos inserir nesse contexto e não sermos levados por um ufanismo para um dos lados, Affleck se vale de certos recursos que funcionam a mil maravilhas. Os iranianos que surgem na tela parecem se enquadrar naquele tipo imortalizado pelo cinema americano dos últimos anos: barba cerrada, olhos negros, taciturnos. Alguns podem achar em tal uma frouxidão. Mas o que querem? O Cinema e a própria História nada mais fazem que nos mostrar que não existe uma verdade objetiva. Apenas coisas a serem contadas que podem ou não se aproximar do que realmente ocorreu. Isso contado por sob o ponto de vista de alguém. Assim os story-board se mesclam as imagens de arquivo e estas por sua vez inspiram as tomadas atuais. O diretor tem a argúcia necessária para criar um distanciamento tal, que de forma equilibrada mescla as cenas de Teerã com aquelas ocorridas em Hollywood onde efetivamente dois moleques brincam de fazer cinema. Assim ao olhar o que ocorre do ponto de vista desses últimos o filme não se encaminha para mais um filme maniqueísta. Ainda que tudo seja criado de forma a se aproximar do real, o que vemos é apenas uma ilusão deste. Para citar uma sequência que justifique o que digo cito aquela da montagem paralela entre a leitura do falso roteiro nos EUA e uma execução de reféns em Teerã que no final se mostrará também falsa. Duas inverdades com um mesmo potencial: a morte. Uma é cômica, a outra não o é. O impacto emocional, no entanto nos atinge, apesar de sabermos que é um engodo.

Aliás a direção dos atores é um primor. Todos funcionam a mil maravilhas de forma que o único destaque é justamente aqueles que estão na função dos ditos sonhadores: a sátira divertida a Hollywood levada a cabo por um Alan Arkin como um produtor apaixonado e John Goodman como um especialista em efeitos especiais e maquiagem.

A propósito de Affleck. Ele interpreta esse agente de forma tão comedida, sua presença na tela nunca fica além do necessário. Um personagem taciturno, centrado, racional, bem resolvido e que o roteiro (como a direção) tem a felicidade de fazer com que não sobressaia sobre os demais. Ele jamais cai na caricatura e transmite uma emoção sincera. Essa naturalidade em cena, não só dele, mas como dos demais é que aproxima o filme mais um pouco de um quase documentário. Apesar de já conhecermos o desfecho (pois é baseado em fatos reais) as soluções encontradas (simples é verdade) pela direção surpreendem. No Aeroporto não compreendemos o que os iranianos falam entre si, o que traz para nós a angústia real dos que dependem das decisões deles para saírem incólumes daquele local.

Em suma: Ben Affleck caminha a passos firmes e seguros para se tornar um cineasta do quilate de um Clint Eastwood. O que ele realizou atrás das câmeras deve no mínimo chamar nossa atenciosa e respeitosa atenção.

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