Corpo Fechado (2000)

O filme se ancora no que seria uma viagem ferroviária tranquila. O desfecho, contudo, foi trágico: Todos os envolvidos nessa viagem morreram, exceto um. Tal sobrevivência é creditada a um milagre, afinal o envolvido não sofreu sequer um arranhão. Partindo dessa premissa, M. Night Shyamalan nos presenteia com um filme que supera em muito o já consagrado “O sexto sentido”. O que torna esse filme mágico é a forma como vamos conhecendo o mundo em que vive esse sobrevivente (David Dunn – vivido por Bruce Willis).

Mergulhamos assim na rotina da sociedade americana, ou pelo menos do homem comum americano. A mulher, os filhos, o trabalho. Um mundo destítuido de arte, já que tudo o que o rodeia surge como descartável (notem que não existe música dentro do lar do protagonista). Essa rotina será quebrada quando surge Elijah Price, um desenhista que sofre de uma rara doença chamada de ossos de vidro. Entre ambos existe um abismo. Um tem a fortaleza que o fez sobreviver a inevitável morte, o outro é tão frágil que qualquer queda pode jogá-lo em cima de uma cama por meses. Para Elijah Price (um leitor de quadrinhos de super-heróis desde a infância) David Dunn não conhece suas potencialidades. Ele lhe diz que o fato de ter sido o ùnico sobrevivente somente indica que ele foi um dos escolhidos da criação: É um super herói. De início ele julga estar falando com um louco, posteriomente tomará as palavras de Elijah Price como a verdade. Descobrirá então suas potencialidades e fraquezas.

Na minha opinião M. Night Shyamalan fez uma das mais duras críticas a visão que o americano tem de si e do mundo. A sociedade americana se julga acima dos demais povos e vive a angústia de todos os dias se descobrir igual. David Dunn (e o americano em geral) descobrirá no fim do filme a que leva tal ideal. Ao mostrar a vida pequena e medíocre de David (ao contrário de um Tony Stark – Iron Man; ou Bruce Wayne – Batman; ambos milionários) e não fazer de um desastre o ponto de partida para que ele adquirisse poderes sensacionais (como o Quarteto fantástico ou o Homem Aranha) o diretor brincou com nossa visão estereotipada da realidade. E como em “O sexto sentido” só nos revelou o sentido de seu quebra-cabeça no final. Só que nesse filme persistimos em acreditar que o super-herói americano existe. Se existe falha no roteiro, ela advém da incapacidade de quem assiste perceber a engenhosidade de sua trama. O filme trata da loucura, da obsessão, do não aceitar-se humano. Não da descoberta de um super-herói.


Escrito por Conde Fouá Anderaos

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