Que o cinema (sobretudo o americano) é cada vez mais uma indústria nas vias de fato, todos já estão carecas de saber. Produzindo filmes em uma escala que deixaria os ingleses do século XIX se roendo de inveja, e claro, sempre visando o lucro acima de qualquer coisa, como em qualquer bom sistema capetalista, o mercado norte-americano parece apresentar cada vez menos oportunidades para um cinema mais autoral e menos industrial. Comendo nessa borda, surge Esboços de Frank Gehry, um filme que concilia autor e produtor de uma maneira um tanto quanto interessante Primeira observação a ser feita é que tal filme se trata de um documentário. Óbvio, você pode pensar, mas tomando em consideração o momento histórico (2005) no qual o filme está inserido, isso se torna um pouco mais complexo.
Logo após o sucesso comercial de filmes como Tiros em Columbine e Fahreinheit 11/9 (ambos de Michael Moore) e A Corporação, as produtoras americanas começam a prestar mais antenção em um mercado que até então era quase que desprezado, se resumindo a filmes de circuito totalmente alternativo, filmes exclusivos de festivais e documentários-propaganda da Discovery. Logo surgiria um boom de documentários com tramas mais interativas e que usassem uma linguagem mais popular, que dialoga diretamente com o grande público. Aqui podemos inserir obras como A Marcha dos Pinguins ou A Enseada.
No meio dessa história, surge a idéia de se fazer um documentário sobre um dos arquitetos mais consagrados e admirados dos últimos anos: Frank Gehry. Uma idéia de produtores, que precisavam de um diretor para conduzi-la. Gehry recomenda um amigo que fez alguns filmes por aí, porém tal amigo nunca havia dirigido um documentário (nem sabia como fazê-lo) e tampouco possuia conhecimentos sobre arquitetura. No fim das contas, Esboços de Frank Gehry acabou sendo o último filme do sujeito, conhecido como Sydney Pollack.
Volte no tempo e lembre daquela aula, lá no ensino fundamental, quando a sua professora de artes (ou educação artística, como era conhecido) te ensinou que existem sete artes, e que arquitetura era uma delas. Caso você não estivesse extremamente distraído pensando em qualquer bobagem ou ocupado em tocar o terror na sala de aula, você certamente teria se questionado porquê construir casas seria uma arte. É isso que o filme de Pollack se propõe a responder.
Em pouco mais de 80 minutos, é traçado um panorama artístico definitivo de Frank Gehry, retratando a forma com que ele interage com suas obras, seu trabalho, sua família e seus amigos. É documentado o processo de criação do arquiteto, suas influências (sobretudo a de Alvar Aalto) e os acontecimentos de sua vida que o levaram a essa profissão. Porém, o filme acaba ultrapassando essas barreiras e se torna uma espécie de biografia involuntária do, agora sem dúvidas, artista.
Embora apresente um tratamento de imagem bem precário, que deixa o filme com um aspecto de filme caseiro feito sem qualquer tipo de direção de fotografia, o maior problema do filme é outro. Pollack parece, em vários momentos, muito mais interessando em fazer um tributo ao amigo do que um documentário sobre o mesmo. Vemos constantemente sua admiração profunda tomar conta da tela e tentar se inserir no âmago do espectador, tornando o filme praticamente um catálogo cinematográfico de um arquiteto, uma propaganda. Esboços de Frank Gehry acaba se mostrando um Maggie's Center de Pollack para Gehry, com a diferença de que este está vivo.