Em dado momento do filme, Desmond conta sobre o raríssimo arco-íris duplo, fenômeno que acontece quando se forma um reflexo de um arco-íris no céu, com as cores invertidos e algo do tipo, cuja natureza do fenômeno não ficou muito clara no filme . O importante aqui é que desse arco-íris duplo extrai-se não apenas o título do filme, como também um indicativo de o que virá a seguir. Na primeira metade, o único defeito a ser apontado é a direção, que aparentemente não consegue se decidir se o foco do filme se dará no irmão mais velho (Desmond) ou no irmão mais novo, visto que embora esse segundo assuma o papel de narrador e sob sua visão a história aparentemente transcorre, é o primeiro que domina a obra e que protagoniza os melhores momentos. Momentos esses que vêm da sua relação com seus pais, seu irmão, e sobretudo com uma garota da escola pela qual ele se apaixona, havendo reciprocidade em tal sentimento. Mas tal qual no arco-íris supracitado, a segunda parte do filme se mostra o perfeito reflexo da primeira. Se no início a obra se mostrava impecável ao retratar um complexo drama familiar sem chegar nem perto da pieguice, coisa um tanto quanto difícil, na segunda surge um evento extremamente absurdo, que vira totalmente o rumo da história tornando-a um terrível e maçante melodrama. Uma prova de como destruir um excelente trabalho. Mas ainda assim um toque de genialidade persiste pela forma com que se mostra o sofrimento da população durante uma difícil fase da história de Hong Kong. Se os eventos não podem ser simplesmente jogados por não fazerem referência à família que vive do ofício de sapateiro do pai, ele surge quando o sargento bate á porta da casa aumentando os impostos e, acima de tudo (aqui a genialidade de que eu falei), através do vidro do aquário que o irmão mais novo usa sobre a cabeça para simular um capacete espacial. Uma realidade à parte, onde seus sonhos imperam e que surge em um contraste com a violência e o drama do mundo externo. Além do roteiro, outro ponto onde a obra peca, ao meu ver, é a trilha sonora, que embora melódica e harmoniosa, acaba sendo utilizada em tons e momentos errôneos, dando uma sensação de estranha, como se a música surgisse do nada e invadisse o filme, querendo conquistá-lo para si. E nessa briga entre ambos, quem se fere somos nós.
Ecos do Arco-Íris (2010)
Jorge
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