Casa Vazia (2004)

O sul-coreano Kim Ki-Duk pode ser considerado um dos grandes expoentes do cinema daquele país. Com 15 anos de carreira e a mesma quantidade de filmes, o coreano possui uma carreira prolífica como a de poucos. Suas obras se assemelham pelo toque lírico do diretor, pela escassez de diálogos e pela comunhão entre o real e o onírico. Em Casa Vazia, também conhecido como Ferro 3, esses elementos não se mostram diferentes. Considerado o melhor trabalho do artista junto com seu Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera, o que mais chama a atenção aqui é o questionamento de porque tal filme é tão bom assim, ou melhor, porque esse filme é bom. A resposta a isso se deve quase que exclusivamente ao trabalho de direção. À uma primeira vista, a história desse Casa Vazia parece ser simplesmente sobre um homem, que sobrevive distribuindo folhetos que cola na fechadura das casas. Os folhetos que ainda estiverem lá indicam que não há moradores na casa. Assim, ele encontra um lugar para passar a noite, as casas vazias. Porém, tal personagem, chamado Tae Suk e interpretado por Hyun-Kyoon Lee não possui más intenções. Ele invade a casa apenas para passar a noite e ter algo para comer. Para pagar sua estadia e sua alimentação, faz pequenos consertos, lava a roupa suja da casa e molha as plantas. Em uma dessas visitas ele encontra Sun Hwa, interpretada por Seung-Yeon Lee, uma mulher coberta de hematomas físicos e psicológicos, vestígios das agressões que sofre da parte do marido. Logo, não tarda para as duas figuras se juntarem em sua solidão. Porém, há uma outra história por baixo dessa capa. A história de um homem relativamente bom, relativamente eu digo, pois seu realismo o impede de assumir a posição maniqueísta de mocinho, que acaba sendo preso por um crime que não cometeu (uma pseudo-crítica a um sistema falho) e que na cadeia acaba passando por uma provação e uma evolução. Uma história ridícula, piegas, clichê e melodramática, indigna de qualquer respeito. Mas sendo assim, porque tal filme merece tanto respeito? A resposta, como já dito anteriormente, é Kim-Ki-Duk. David Lynch é conhecido por trabalhos que misturem sonhos com realidade, como por exemplo Cidade dos Sonhos e Império dos Sonhos. Ki-Duk também usa desse artifício, mas de uma forma totalmente diferente. Ao invés de pegar realidade e sonhos e embaralhá-los, ele parte de uma obra hiper-realista e insere nela figuras, situações e elementos completamente oníricos, como por exemplo o jogo de golfe na cadeia ou o acidente envolvendo a bolinha e um carro. Elementos esses que formam o que seria um atrativo à parte, mas que acaba se tornando muito mais que isso, praticamente roubando o filme para si. Como comentado anteriormente, Ki-Duk possui um cinema de poucos diálogos, com essa característica levada aos extremos aqui. Todos os coadjuvantes falam normalmente (Mas afinal, o que seria falar normalmente?), mas os protagonistas não. Todo o relacionamento entre Tae-Suk e Sun-Hwa se dá de maneira não verbal. A segunda até chega a pronunciar algumas raras palavras no final do filme, mas o primeiro, o protagonista de fato, passa toda a projeção sem dizer sequer uma palavra. A máxima de que o cinema nada mais é que imagem em movimento levada a um outro patamar, demonstrando que as palavras são absolutamente dispensáveis em um ambiente onde as expressões, quer seja dos personagens ou da câmera, já diz tudo o que há para ser dito. Para concluir o sentido artístico da obra, o filme fecha com uma frase que exemplifica não apenas a natureza da fita como também toda a natureza humana. Uma semi-adaptação do pensamento Platônico dO Mundo das Idéias que em muito se assemelha às idéias trabalhadas como plano de fundo em Matrix, como tema principal em Waking Life e de uma maneira didática em A Origem. Afinal, as vezes é difícil sizer se o mundo em que vivemos é uma realidade ou um sonho.

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