A viagem de Chris e Gitti para a Sardenha. Um casal de namorados passando as férias num ambiente tão romântico. Ambiente perfeito para uma crise amorosa. No início tudo aparenta estar bem, mas quando entra no jogo Hans, um amigo de Chris, acompanhado de sua namorada, as coisas começam a mudar. Um argumento pra lá de clichê, que por si só seria completamente previsível. Porém, a novata Maren Ade, que apresenta em seu currículo apenas um longa e um curta antes dessa obra, consegue inserir uma certa ambiguidade na trama, uma ambiguidade genial. Talvez, não haja ambiguidade nenhuma e eu é que apenas não tenha entendido o filme, mas deixe-me explicar melhor... Algumas pessoas interpretam o filme como Chris sendo um amante frio, enquanto Gitti seria uma amante mais calorosa. Chris, por algum motivo, provavelmente uma crise existencial provocada por um possível questionamento de sua masculidade ou por adentar na meia-idade, se vê necessitado de demonstrar quem possui o poder naquele relacionamento. No início, Gitti se submeteria aos caprichos de seu namorado, mas conforme ela percebe que está perdendo sua personalidade, ela resolve se voltar contra Chris. Ok, li em vários lugares pessoas interpretando o filme dessa maneira. Embora ela faça bastante sentido, não foi assim que eu interpretei. Na minha visão, o relacionamento de Chris e Gitti é considerávelmente estável até a entrada de Hans no jogo. Logo, Chris nota a felicidade de Hans, um antigo amigo (talvez nem tão amigo assim, visto que Chris demonstra em mais de um momento que a companhia de Hans não costumava apetecê-lo muito) e percebe que não é tão feliz com a sua namorada como ele. Dessa forma, Chris começa a se aproximar de Hans visando sugar um pouco de sua felicidade, ao mesmo tempo que se distancia de Gitti por perceber não amá-la. Gitti, em contra-partida, percebe que não é mais amada e começa a alimentar um certo desprezo por seu parceiro. De qualquer forma, um tema recorre em ambas as interpretações: a auto-descoberta. De Chris, é claro, não de Gitti. Seja ela expressa na forma de reafirmar seus valores, seja na busca pela felicidade. Seja qualquer uma das interpretações, o que nós temos é um início com Gitti dominante e Chris dominado, e um final absolutamente invertido. Onde ocorreu essa inversão? Impossível determinar. Quando percebemos, já ocorreu. Mérito da diretora por conseguir embuti-la tão bem. Contudo, o ritmo do filme pode ser considerado demasiadamente lento, chegando em certas partes a se tornar arrastado. Mas, ao término da exibição (contando que você aguente até lá), pode-se dizer que é sim um bom filme. Talvez não de valer o nono lugar entre os melhores do ano segundo a Film Comment, mas também, não consigo colocar muita fé numa lista que cita o ridículo Aquário na posição de número 40.
Todos os Outros (2009)
Jorge
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