A Morte do Stalinismo na Boêmia (1991)

Primeiro trabalho de Svankmajer após a queda do comunismo na Europa Oriental, ele se utiliza desse momento histórico para traçar um panorama da história tchecoslovaca pós-Segunda Guerra, algo semelhante com o que Tomek Baginski viria a fazer 20 anos depois com a história da Polônia. Contudo, ao contrário do filme polonês, esse exemplar aqui se utiliza de críticas ácidas que em alguns momentos chegam a beirar o humor negro para demonstrar o sofrimento de um povo durante anos difícies segundo o autor. O curta cobre mais específicamente 41 anos da história daquele país, desde a ocupação soviética de 1948 até a Revolução de Veludo em 1989, tudo isso feito sob as mais brilhantes metáforas, tais quais o busto de Stálin sendo aberto e de dentro desse saindo um segundo busto com a efígie de Klement Gottwald, primeiro-ministro da Tchecoslováquia e posteriormente presidente da mesma, tal qual em um parto, construíndo dessa forma uma ponte entre as duas figuras, e a cena em que rolos de macarrão descem as ruas esmagando todo o lixo em seu caminho, traçando uma àlusão aos tanques soviéticos que tomaram as ruas da capital tchecoslovaca durante a Primavera de Praga, em 1968. Svankmajer chega ao extremo de sua crítica ao instaurar a dúvida se sua mensagem é positiva ou negativa. As referências à Stálin podem tanto simbolizar a liberdade do socialismo utópico atingindo a Tchecoslováquia quanto a opressão de um regime ditatorial. Outro exemplo dessa ambiguidade é o uso de imagens sexuais (leia-se pornografia) do século XVIII em montagem paralela com imagens da população tcheca em momentos de alegria, que pode tanto ser uma sátira/crítica à essa "alegria" quanto uma ilustração de até que ponto a liberdade do povo pode chegar. Mas essa não é uma ambiguidade ruim, ela apenas abre a possibilidade de que se interprete o filme a partir de sua própria visão de mundo. Usando recortes de revistas, imagens de arquivo, fotos de líderes, tomadas em live-action e stop-motion com massa de modelar, Svankmajer cria um quebra-cabeça surreal, mas ainda consegue de modo brilhante fazer um trabalho histórico sobre seu país. Aqui, sua crítica política constante chega ao seu ápice de uma maneira muito boa.
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