Folhas Mortas (1956)

No início de sua carreira, Robert Aldrich conseguia manter uma incrível média de dois filmes por ano, porém, tamanha prolificidade não viria a durar muito, com um dos motivos para tal certamente sendo a perda de qualidade implicada pelo mesmo. Embora tenha lhe rendido o Leão de Prata de Direção no Festival de Berlim, Folhas Mortas é, na opinião desse que vos fala, o filme menos interessante da carreira de Aldrich até então. Não que seja um filme ruim, mas o mesmo apresenta uma angustiante escassez de qualidades. Millicent Wetherby é uma mulher de meia-idade cuja vida carece de amor e afeto. A existência solitária de Millicent muda quando ela conhece Burt Hansen, um carismático jovem. Tão cedo quanto Burt a conquista e pede sua mão em casamento, suge a desconfiança de que o noivo de Millicent sofre de sérios transtornos mentais. As coisas complicam ainda mais para Millicent quando uma mulher alegando ser a primeira esposa de Hansen bate à sua porta. Em um argumento interessante, com várias possibilidades de abordagem, mas que é fracamente explorado, Aldrich aparenta não saber aonde que chegar. A abordagem se inicia focando na diferença de idade entre os protagonistas, onde a personagem de Joan Crawford recusa os pedidos de casamento da personagem de Cliff Robertson dando como justificativa a diferença de idade entre ambos, porém seu casamento ocorre mesmo assim, formando quase que uma antecipação da revolução sexual que viria na década seguinte. Após o casamento, Millicent começa a descobrir que quase tudo o que Burt lhe dissera era mentira e a obra começa a tomar ares de suspense, bem ao estilo Aldrich de se fazer cinema. Porém, mais uma vez há um tipo de reviravolta na trama quando as mentiras de Burt são justificadas pelo fato de o mesmo possuir algum tipo de neurose. Aldrich passa uma boa imagem de um filme profundo tal qual um pires, no qual nem mesmo as atuações excepcionais do casal principal, Joan Crawford e Cliff Robertson, são capazes de erguer o nível. Assim como muito do que se vê hoje, Folhas Mortas trata-se de uma maravilhosa embalagem desprovida de conteúdo, onde Aldrich aparenta não ter objetivo. Porém, olhando por uma outra ótica, uma ótica que dispense o objetivo, tal análise pode muito bem se inverter. Desconsiderando a necessidade de desenvolvimento da trama, podemos considerar Folhas Mortas como um bem realizado e conduzido trabalho sobre o relacionamento humano entre um casal, digamos pouco ortodoxo, no qual se misturam esposa mais velha, ainda um tabu na época, com neurose, ainda um tabe nos dias atuais. Sob essa visão, Aldrich realizaria um interessante trabalho de personagens, explorando o tema e lançando uma visão pessoal a respeito do mesmo, o que faria com que, na opinião de alguns, esse viesse a se tornar um dos melhores filmes de sua carreira. Apenas lamentável ainda o fato de a juventude de Millicent, disperdiçada em meio aos cuidados de seu pai doente, seja tão pouco e superficialmente abordada. Folhas Mortas é um romance folhetinesco, mas não que isso seja necessariamente ruim. Na realidade, a qualidade de tal obra pode variar entre dois extremos a partir de o que cda espectador espera de um filme. Por realizar uma obra assim tão complexa que leva uma crítica a se iniciar negativa e terminar positiva tal qual essa, Robert Aldrich merece respeito.

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