Demência 13 (1963)

Francis Ford Coppola, diretor de obras memoráveis, como por exemplo: a trilogia de "O Poderoso Chefão", o caótico "Apocalypse Now", e, talvez, o menos comentado de todos, mas ainda assim brilhante, "A Conversação", começa a sua filmografia com um gênero que, até então, só tornou a repetir a dose, na adaptação do famoso romance de Bram Stoker. No ano de 1963, o americano dirigiu "Demência 13" - lembrando que o número "13" foi acrescentado, apenas para diferenciar a obra de Coppola, da obra de John Parker, realizada em 1955 - um slasher B de curta duração, em torno de 75 minutos, que conta com o lendário Roger Corman, na produção do seu primeiro filme. De fato, não foi uma estréia que já demonstrava o que estava por vir, mas ainda assim, é interessante notar o comportamento do diretor em sua primeira viagem. É impossível comentar sobre o nascimento desse grande diretor, sem tocar no nome de Roger Corman. Quando Coppola estudou cinema na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ele chegou a dirigir diversos curtas-metragens, mas nada muito chamativo. Anos depois, começou a trabalhar com um dos grandes nomes do Cinema B, que já foi citado anteriormente, escrevendo roteiros e até mesmo operando nas suas produções. Corman abriu as portas para Coppola, tendo um papel de padrinho, no começo da sua jornada no mundo da sétima arte. "Demência 13" chega a resgatar alguns aspectos das produções da época, como por exemplo: pequena duração, elenco desconhecido, e a típica violência gráfica, mas ainda com doses acentuadas.

O enredo se baseia numa maldição que assombra o castelo Haloran, palco de acontecimentos inexplicáveis, e moradia de uma nobre família irlandesa. Depois da morte de Kathleen, uma jovem menina que se afogou no lago do castelo, enquanto brincava com o seu irmão, a vida deles nunca mais foi a mesma. Todos os anos, sua mãe e seus irmãos seu reúnem para celebrar essa triste data, entretanto, por já ser mais velha, a matriarca acaba desenvolvendo alguns problemas psicológicos. O que não passava de mais uma celebração rotineira, acaba virando um caos indescritível para a família. Um assassino está à solta, no castelo, mas ninguém sabe o que ele realmente quer. Coppola demonstra que sabe trabalhar com os gêneros suspense/terror, mesmo demorando um bom tempo para engrenar num ritmo compatível, mediante ao fato da lentidão do primeiro ato. O diretor utiliza de uma fotografia escura e uma trilha sonora pesada, para enriquecer a atmosfera lúgubre dos takes. Sem dúvida alguma, um aspecto que veio do aprendizado com Roger Corman. No entanto, podemos notar certo despreparo na montagem. Por vezes, certos takes desnecessários, que antecedem o ápice do suspense, acabam prejudicando extremamente, o efeito desejado. Se por um lado Coppola peca em certas cenas, por outro, ele consegue melhorar o nível da produção de forma incomparável. A oscilação é nítida, e acaba prejudicando o produto final. Alguns momentos positivos estão associados aos trechos em que os diálogos e as atuações têm uma combinação extremamente agradável. Quando Billy - Bart Patton - comenta com Kane - Mary Mitchel - sobre o seu sonho, e começa a descrevê-lo, o espectador chega a sentir um desconforto prazeroso. É uma pena que Coppola dirigiu "Demência 13" tão cedo, afinal de contas, imagino que teríamos uma obra-prima em mãos, caso ele tivesse produzido depois do seu memorável amadurecimento cinematográfico. Outro aspecto extremamente interessante, que demonstra a influência de grandes diretores nas obras de Coppola, é a utilização do MacGuffin, conceito que estava presente em boa parte dos filmes de Alfred Hitchcock. O MacGuffin consiste num objeto que serve de pretexto para dar andamento ao filme, tendo papel coadjuvante, com o passar do tempo. Em "Psicose", o dinheiro roubado é o MacGuffin, que só serve para levar a personagem de Janet Leigh, até o hotel dos Bates. No caso de "Demência 13", o objeto em questão é o testamento da família, que interessa a personagem de Luana Anders. No decorrer do filme, esse assunto é soterrado, frente ao mistério que circunda o castelo de Haloran. Alfred Hitchcock já era extremamente reconhecido, e Coppola foi um dos diversos diretores que se inspiraram em suas obras-primas. Com um roteiro bem mediano, que acaba prejudicado pela duração, Coppola dá inicio à sua filmografia, demonstrando o seu aprendizado, e as influências dentro do seu cinema. Como foi dito anteriormente, o filme oscila e não dá espaço para um desenvolvimento mais detalhado, que, de fato, ajudaria muito no produto final. Uma estréia morna que não demonstrava uma ascensão tão significativa. Coppola acertou no cinema, quando decidiu expor o seu talento, em vez de ficar submisso aos mestres que o rodeavam. Nós agradecemos por isso.

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